Tirinhas...

A semana chega ao fim. Por incrível que pareça, consegui o que pensava ser impossível: todos os dias postei algo no blog, entre resenhas de livros, críticas de filmes e histórias, além de textos que saíram livremente dessa mente sem inspiração.

Hoje não irei postar nada consistente, pois confessos que minhas ideias se esgotaram (mas apenas hoje, espero). Nesta próxima semana pretendo continuar postando todos os dias. Porém, com o início das aulas, e o começo do terceiro ano do ensino médio, talvez não consiga. Mas vou fazer de tudo para postar sem falta. Talvez apareça aqui até mesmo com novidades do meu primeiro dia de aula. E claro, a segunda parte da história "As Três Bruxas de Wickhell", que postarei no sábado. Não percam! Aliás, obrigado aos leitores que estiveram presentes.

Bem, para não deixar essa postagem passar vazia, coloco aqui algumas tirinhas dos Peanuts, mais conhecidas pelo divertido Snoopy. Como um grande fã, acho que às vezes essas simples tirinhas gritam alto o que todo mundo quer dizer, mas ninguém consegue. Divirta-se!







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As Três Bruxas de Wickhell

Aqui estou eu com a primeira história do ano. Não vou esconder o óbvio: as irmãs Garbo foram inspiradas nas irmãs Sanderson, do filme Abracadabra. Mas resolvi fazer uma história voltada para o terror e bem mais sinistra. Espero que gostem do modo que escrevi. Quem está curioso para ler a continuação, vai ter que aguentar um pouco: sábado que vem tem mais!



Era meia-noite quando o primeiro grito foi ouvido. As estrelas, escondidas por nuvens avermelhadas, não deixavam trespassar nenhuma luminosidade. Até a lua, sempre reluzente, estava escondida. Talvez por medo. No grande salão do mausoléu abandonado, a escuridão se tornava cada vez mais sombria. Por um momento, o salão transformou-se em um negror e um frio insuportáveis, quase impossíveis de se tolerar por um minuto sequer. O longo grito ecoava sem parar, como se nunca fosse ter um fim. Finalmente cessou, e com isso a escuridão se tornou menos negra e o salão voltou a seu clima ameno habitual.

Com o ritual completo, Wanda, a aprendiz, viu aparecer uma bruxa à sua frente. Era alta, com longos cabelos ondulados. A roupa, extremamente antiquada, era de cor escura e cheia de babados. Não era bonita nem feia, mas emanava uma forte sensualidade, que fazia com que fosse sempre o centro das atenções nos lugares fétidos que se encontrava. Wanda disse um pouco emocionada:
- Bem vinda, Loretta Garbo, oh Grande Bruxa!

Abrindo a boca carnuda e vermelha lentamente, a bruxa falou:
- Então você me libertou, oh Wanda, filha de Erek e Lahana?
- Como sabe sobre mim?
- Eu sei de tudo. Sei dos vermes que devoram carne pútrida no solo, das mães que matam seus filhos antes mesmo de nascerem, das crianças cada vez mais pervertidas e sanguinárias. Seu nome não é nem de longe algo difícil de se descobrir.
- Tudo bem, Loretta Garbo - disse Wanda, apreensivamente. Começava a ficar em dúvida se tinha feito o certo ao libertar a bruxa milenar. - Agora que a libertei, obedecerá às minhas ordens, não é verdade?
- Isso acontecerá apenas quando minhas irmãs estiverem presentes - disse Loretta, com um sorriso nos lábios.
- Então deixe-me terminar com o ritual.

Wanda se dirigiu novamente ao meio do salão, como havia feito poucos minutos antes. Uma grande estrela de cinco pontas estava desenha com seu sangue no chão, e em cada ponta uma vela negra se encontrava. Quando a Grande Bruxa havia surgido, todas as velas se apagaram. Acendendo-as novamente, Wanda saiu do meio da estrela e gritou bem alto:
- Oh Elga Garbo, filha do próprio Ser das Trevas. Volte do passado, insurja no presente. Sua maldade é necessitada, por isso retorne com seu coração ausente.

O segundo grito foi ouvido naquela noite. O salão do mausoléu novamente se tornou imensamente escuro e gelado, até que o grito cessou e tudo voltou ao normal. Elga Garbo possuía os mesmos traços da irmã, mas era um pouco mais gorda e mais baixa, além de ter cabelos presos em um coque na cabeça. O que a diferenciava da irmã, sem qualquer dúvida, era a falta de um coração, que havia sido oferecido há muito tempo em um sacrifício.

- Bem vinda, irmã - disse Loretta Garbo.
- Onde está Amanda? - falou pela primeira vez Elga, com uma voz profunda e penetrante.
- Está a caminho. Sim, logo logo ela estará aqui.
Wanda, sem perder tempo, fez o mesmo processo de acender as velas como antes. Porém, suas palavras foram diferentes.
- Oh Amanda Garbo, filha do próprio Ser das Trevas. O passado já era, o presente te espera. Deixe sua maldição para trás, surja com seu gato Barrabás.

Um terceiro grito foi ouvido na noite, e como as outras duas vezes, a escuridão e o frio reinaram por alguns instantes. Logo depois, lá estava Amanda Garbo, sorridente como sempre, ao lado de seu felino diabólico. Segundo a lenda, ela havia se relacionado com uma cobra, e dessa relação nascera o gato Barrabás.
- Queridas irmãs, que bom ver vocês! - disse a sentimental Amanda.
- Poupe-me de seu sentimentalismo barato - disse Loretta Garbo, a Grande Rainha das Bruxas, uma das filhas do Ser das Trevas. - Temos um feitiço a ser executado.
- Quando, sereníssima irmã? - como sempre, Amanda gostava de enfurece-la.
- Já! - gritou Loretta, já perdendo a paciência.

Virando-se para Wanda, disse com voz passiva:
- Minha querida, você tem a consideração das três bruxas de Wickhell. No entanto, agora chegou a sua hora.
- Mas... mas... eu as trouxe de volta! Vocês estão sob meu comando! - disse Wanda, lívida de medo e terror.
- Você já cumpriu seu papel. Esta parte do "estamos sob seu comando" é apenas uma história para que alguém nos traga de volta. Aliás, nunca espere nada de uma bruxa, muito menos das três bruxas de Wickhell.
- Não! Vocês não podem fazer isso comigo! - e dizendo isso, Wanda começou a correr. Mas era inútil.

As três bruxas levantaram as mãos e recitaram rapidamente o feitiço:
- Wanda, filha de Erek e Lahana, você nos trouxe de volta - disse Elga.
- Porém, lembre-se bem, nada mais importa - disse Amanda.
- Isso porque, minha querida, você estará morta - disse Loretta.
Raios verdes saíram de seus dedos e voaram para o coração de Wanda. Esta caiu no chão com um baque surdo, e no mesmo instante estava branca e gelada. Morta e rígida como um pedaço de madeira.

- Bem, irmãs, estamos de volta. O futuro nos espera. Preparem as vassouras, vamos partir para nossa cabana. Faremos de tudo para que nosso plano dê certo. Quem entrar em nosso caminho será descartado sem demora. Voemos! - disse Loretta Garbo, montando em sua vassoura e voando pela escuridão com suas duas irmãs.

I Put a Spell On You

Quem nunca assistiu o filme "Abracadabra"? Se você viu, com certeza se lembra bem da música "I Put a Spell On You", que é tema deste filme que eu adorava quando criança, e gosto até hoje. Eu não estou aqui para falar de Abracadabra (quem sabe semana que vem), mas sim desta grandiosa e viciante música. Fazendo uma rápida busca pela internet, descobri que ela não é apenas mais uma musiquinha que fez um rápido sucesso como muitas outras. Escrita por Jay Hawkins Screamin no ano de 1956, entrou na lista das 500 canções que deram forma ao Rock e já foi cantada por dezenas de pessoas. Abaixo, lhes apresento a letra da música em inglês e o vídeo com a performance da atriz e cantora Bette Midler, ao lado das atrizes Sarah Jessica Parker e Kathy Najimy, no filme Abracadabra.

I put a spell on you

I put a spell on you
and now you're mine.
You can't stop the things I do.
I ain't lyin'.

It's been 300 years
right down to the day,
now the witch is back
and there's hell to pay.

I put a spell on you
and now you're mine!

"Hello, Salem! My name's Winifred, what's yours?"

I put a spell on you
and now you're gone.
My whammy fell on you
and it was strong.

Your wretched little lives
have all been cursed,
'cause of all the witches working
I'm the worst!

I put a spell on you
and now you're mine!

[Watch out!]

If you don't believe,
you'd better get superstitious.

Ask my sisters!
"Ooh, she's vicious!"
I put a spell on you,
a wicked spell,
I put a spell on you.
Sisters!

Ah say ento pi alpha mabi upendi
Ah say ento pi alpha mabi upendi
In comma coriyama
In comma coriyama
Ay, aye, say bye-bye!


Haroun e o Mar de Histórias

A maioria das pessoas, no que se refere à literatura, está interessada apenas nos grandes lançamentos que surgem todos os anos. Harry Potter, Crepúsculo, Percy Jackson, Eragon, dentre vários outros, são praticamente os únicos livros que a maior parte das pessoas chegou a ler algum dia. E quem já leu outros livros além desses, foram de autores praticamente iguais e histórias extremamente parecidas. Por isso, é sempre bom inovar e estarmos sempre em busca de novos livros e novos autores. E com este pensamento, de buscar algo original e surpreendente, eu lhes apresento "Haroun e o Mar de Histórias", que passei a considerar um dos melhores livros de fantasia já criados.

Este é um livro indiano escrito pelo autor Salman Rushdie. Provavelmente você até se assustou com seu nome e nunca ouviu falar dele, mas na verdade, Rushdie não é um autor tão desconhecido assim. Ele já escreveu alguns livro que fizeram sucesso internacional, como "A Feiticeira de Florença", "Os Versos Satânicos" e "Os Filhos da Meia-Noite". Aliás, quem já leu um livro indiano levante a mão. Ninguém? Pois é, encontrar alguém que já o tenha feito é bastante raro hoje em dia. Eu, inclusive, era um desses antes deste livro. Mas felizmente o encontrei e vocês agora tem a chance de lê-lo, pois minha dica está sendo dada.

Vamos ao que interessa: a história do livro. "Haroun e o Mar de Histórias" nos leva para uma pequena cidade sem nome, no país de Alefbey, em que tudo é triste e melancólico, e onde as pessoas comem apenas peixes peixosos. Na verdade, nem tudo é triste nesta cidade. A família de Rashid Khalifa, composta por ele, sua esposa Soraya e seu filho Haroun, é conhecida por sua grande felicidade em toda esta metrópole infeliz. Rashid é o grande Xá do Blá-Blá-Blá, ou o Mar de Ideias, e suas histórias são conhecidas e necessitadas em todo o país e além. Soraya tem uma voz linda, e está sempre cantando em casa. E Haroun, além de ser o herói do livro, está sempre pronto para aprender novas coisas. Tudo ia perfeitamente bem até o dia em que Soraya vai embora e Rashid perde as ideias para suas histórias. Com isso, Haroun, junto de novos amigos, terá de viver uma grande aventura e lutar contra malignas forças da escuridão e do silêncio para trazer as histórias de seu pai de volta e fazer com que tudo volte a ser como antes.

Sabe aquela velha frase, "viajei com tal livro"? Pois bem, com "Haroun e o Mar de Histórias", você deve levar isso a sério. Ao abrir a primeira página, você literalmente entra em seu mundo mágico e não quer mais sair. Quando Haroun sobe no Gavião-Avião e começa suas aventuras, você se sente junto dele, segurando fortemente as penas do pássaro e sentindo o vento em seu rosto. O mundo a sua volta some, e à sua frente você vê apenas a Cidade de Gup e seus habitantes inesquecíveis. Aliás, personagens tão incríveis quanto desse livro será difícil encontrar igual. Minimamente traçados e descritos, são tão carismáticos que ao acabar de ler o livro, me senti triste por terminar a última página e perceber que nunca os encontraria de verdade. Haroun, Rashid, o Gênio da Água, o Gavião-Avião, o Jardineiro Flutuante, os Peixes de Mil Bocas, Tagarela, dentre vários outros, estarão sempre em minha mente como modelos de personagens ideais.

O jeito fantasioso de Rushdie escrever o livro me lembrou imensamente o modo como Diana Wynne Jones narra suas histórias. Para quem não sabe, entre as obras da autora estão "O Castelo Animado", "O Castelo no Ar" e a série "Os Mundos de Crestomanci", que descobri há pouco tempo mas já se tornou referência de livros de fantasia para mim. Por isso, comparar Salman Rushdie com Diana Wynne Jones, que praticamente idolatro, é um elogio dos grandes. O melhor de tudo é que "Haroun e o Mar de Histórias" não é apenas um livro de fantasia. Mistura também humor, ação, aventura, um pouco de romance e até pitadas de suspense e terror. Quando lemos, percebemos que não é um livro infantil como aparenta, e sim, se aproxima mais de um livro fantasioso para adultos, e que facilmente agrada a pessoas de todas as idades.

"Haroun e o Mar de Histórias" foi escrito em 1990 e, sinceramente, até agora não entendo o por que da obra não ter feito grande sucesso. Talvez seja pelo fato do autor não ser muito conhecido, ou quem sabe porque é um livro indiano. Vai saber. O que importa é se depois dessa resenha vocês irão ou não se interessar pelo livro. Eu digo com sinceridade: vale muito a pena ler. A versão que li e que aparece na foto é da Companhia de Bolso, que sai por um preço super em conta. O livro está apenas lá, te esperando na prateleira de alguma livraria. É só você comprar, abrir suas páginas e entrar no mundo mágico de Haroun e em todo o seu mar de histórias.

Salman Rushdie

As melhores coisas do mundo... para Mateus Calazans

A melhor coisa do mundo é, em tardes frias de inverno, enrolado em um cobertor e com uma xícara de leite quente, ler um bom livro ou assistir a um grande filme. Nessas horas, quando o tempo se mostra mais instável, precisamos nos sentir em outros lugares. Lugares mais quentes, mais chamativos, com algo a mais para se fazer. Pois nos livros e nos filmes encontramos o que queremos, "as orelhas esquentam, os cabelos caem sobre o rosto, esquecemos tudo o que nos rodeia e nem mais nos damos conta se estamos com fome ou com frio". Apenas a história e o lugar mágico para onde vamos é o que importa.

A melhor coisa do mundo é rir com os amigos, pois ao lado deles, nada mais importa. Os fatos mais sérios se tornam motivo de risada, e os mais absurdos não precisam ser mencionados. Com apenas um olhar, o riso logo vem aos lábios e dificilmente vai embora. Rir, rir, rir: essa é a palavra. Rir e esquecer tudo o que nos cerca. Rir até não poder mais. Rir e aproveitar cada minuto do riso, pois a qualquer momento os amigos podem ir embora e sabe-se lá se momentos como esse irão se repetir.

A melhor coisa do mundo é fazer planos com alguém. Seja com um amigo, com a pessoa amada, com um familiar. Porque os planos são o começo de algo, e os grandes feitos sempre começam com um pequeno planejamento. Pode ser algo louco e tresloucado no início, mas que logo depois se torna um fato firme e consistente. E se não der certo, quem se importa? O que vale são os momentos de planejamento. Às vezes, o que passamos na hora de planejar se mostra mais instrutivo do que o resultado, que pode vir a acontecer ou não.

A melhor coisa do mundo é sonhar. Sonhar, que não custa nada, que é de graça e que enche a barriga. Na verdade, não só a barriga, mas também a mente e o coração. Sonhar que somos pessoas diferentes, que podemos fazer o inimaginável. Sonhar que tudo é possível, que este blog vai fazer sucesso e que vários comentários vão surgir. Mas de preferência, sonhe junto a alguém. Porque quando se sonha sozinho, é apenas um sonho. Mas quando sonhamos juntos, é o começo da realidade.

Estas são algumas das coisas que considero "as melhores coisas do mundo". Mas o mundo é vasto, o mundo é grande. A cada dia de nossas vidas, podemos conhecer algo novo, algo melhor. Por isso, a busca pelas melhores coisas do mundo é algo que nunca irá acabar. É algo apenas para se começar..

As Melhores Coisas do Mundo

Quando ouvi falar do filme "As Melhores Coisas do Mundo" pela primeira vez, logo me veio à mente uma história tola e mal formulada, tipicamente adolescente e com toques de roteiros de novelas como Malhação. Por mais que eu tente, é impossível não formar opiniões precipitadas de filmes antes mesmo de assisti-los. Quando olho para algum, já o classifico como bom ou ruim. De vez em quando, porém, fico feliz por criar essas opiniões precipitadas. Sabe porquê? Muitas vezes, os filmes que eu pensara serem ruins se mostraram ótimos e incrivelmente bons, tornando-se para mim uma grande surpresa. Pois foi exatamente isso o que aconteceu com "As Melhores Coisas do Mundo", que acabou me surpreendendo mais do que nunca.

É frustrante, para nós brasileiros, percebermos que nosso cinema nacional se interessa apenas por temas como tráfico de drogas, miséria, criminosos e assuntos relacionados. Todos os grandes filmes de sucesso nos últimos anos, como "Tropa de Elite", "Carandiru", "Cidade de Deus", dentre vários outros, apenas abordam exatamente esses temas. Tudo bem que são temáticas importantes no nosso país, mas já estamos cheios disso, certo? Inovação e originalidade são tudo o que o cinema brasileiro precisa, e por sorte, de vez em quando surgem alguns assim, como este que vos indico.

"As Melhores Coisas do Mundo" conta a história de Mano, um garoto de 15 anos igual a todos de sua idade. Gosta de sair com os amigos, ir a festas, beijar, tocar violão, andar de bicicleta, dentre diversas outras coisas. A vida para ele nada mais é do que uma grande curtição. Quando seus pais se separam, porém, tudo parece começar a dar errado. Ele percebe que a vida não é tão fácil, mas sim, um grande paradoxo onde devemos fazer escolhas e tomar decisões difíceis o tempo todo. A primeira transa, a descoberta do amor, o preconceito, a insegurança, a busca por popularidade, a vontade de ser aceito. São fatos que começam a fazer parte de sua vida, fatos normais que todos precisam presenciar durante a vida.

O triunfo do filme, sem qualquer dúvida, é sua capacidade de fazer com que os jovens que assistam se vejam e se sintam presentes em todos os acontecimentos da vida de Mano. O personagem poderia ser eu, você, ou qualquer um. Não existe nenhum acontecimento mostrado que seja totalmente irreal ou que ninguém jamais tenha visto. A garota estranha que sofre ao ser chamada de lésbica; a menina que vê suas fotos sem roupa circulando nos celulares da escola; o garoto que sofre pela opção sexual do pai; o sofrimento e até o suicídio de quem sofre por amor. Pelo menos uma dessas coisas já aconteceu em sua escola, tenho certeza disso, pois são situações assim, que podem acontecer com qualquer um, que são abordadas no filme.

De direção de Laís Bodanzky ("O Bicho de Sete Cabeças", "Chega de Saudades"), "As Melhores Coisas do Mundo" foi inspirado na série de livros "Mano", escrita por Gilberto Dimenstein e Heloisa Prieto. Atores consagrados, como Denise Fraga, Caio Blat e Zé Carlos Machado participam do longa, mas ele conta também com atores que não possuíam nenhuma experiência, como Francisco Miguez, que interpreta Mano, Amanda Carvalhosa, Gabriel Illanes e o aspirante a cantor Fiuk. O uso de atores inexperientes foi exatamente o que garantiu a grande realidade do filme, pois tal inexperiência possibilitou uma abordagem ainda mais próxima da realidade.

Enfim, "As Melhores Coisas do Mundo" é um filme que vale mesmo a pena ser assistido. Para os adultos e quem passou da adolescência, pode até não ser lá grande coisa. Mas para nós, que estamos vivendo essa fase tão difícil, será algo para entrarmos de cabeça e nos sentirmos verdadeiramente dentro da história. É ver para crer.

O Pássaro Negro

Primeiramente, venho pedir desculpas por ficar quase três meses sem postar absolutamente nada no blog. Falta de tempo, de criatividade e de ideias foram os principais motivos. Mas ano novo, jeito novo, espero fazer muitas coisas novas. Por isso, pretendo aparecer aqui com pelo menos um post por semana. Bem, essa é a ideia inicial, se vou conseguir, não sei. Mas me desejem sorte! Aliás, aproveitem, este é o primeiro post do ano.

Todos os dias, bem cedo, quando os primeiros raios de sol surgiam sobre poucas casas de minha cidade, eu me encontrava com um Pássaro Negro. Ele passava por mim no caminho da escola, eu indo, ele vindo. Para falar a verdade, não era um pássaro muito digno de nota. Não era bonito nem feio, não era velho nem novo. Tinha um pouco mais de experiência do que os outros pássaros, isso é verdade, mas nada que pudesse despertar atenção. O que me fez nota-lo foi sua persistência. Vê-lo todos os dias na rua, sozinho, com chuva ou sol, era o mesmo se ele gritasse bem alto: "Me note! Me note!". Quando percebi, o estava prescrutando com os olhos todos os dias. Era mecânico, sem querer, impossível não fazer.

Às vezes estava com um guarda-chuva na mão, ou quem sabe um casaco nos ombros. Havia dias que tossia levemente, e dias que exalava um forte cheiro de cigarro. Um Pássaro Negro que se mostrava extremamente apagado no início, logo se mostrou reluzente e pronto para ser estudado. Havia dias que parecia estar satisfeito. Não! No outro estava com uma expressão um pouco triste. Em um dia, surpresa! Fiz a descoberta de que ele também passava pela escola. Se eu chegasse cedo, poderia vê-lo piando com outros pássaros em frente ao portão principal do colégio. Logo que o sinal batia para o início das aulas, lá se ia ele embora, voando lentamente.

Diversas vezes fui tentado a perguntar: "Pássaro Negro, o que você faz aqui todos os dias?". Ou então: "Pássaro Negro, precisa de ajuda?". Infelizmente, nunca tive coragem de fazer tais perguntas. O pássaro poderia ressentir-se e voar para longe, nunca se sabe. O fato é que os meses foram passando, e o pássaro estava por lá todos os dias. Até que as férias chegaram, e não mais me foi possível vê-lo. O que me pergunto agora é: "O Pássaro Negro estará lá quando eu voltar?". Talvez sim, talvez não. Talvez no primeiro dia de aula eu coloque os pés na rua e, depois de poucos passos, o aviste com as asas negras rufladas de par a par. Ou talvez no primeiro dia de aula eu saia de casa e, depois de  muitos e muitos passos, eu acabe não encontrando nenhum pássaro, muito menos o Pássaro Negro. Ele nunca reparou em mim, mas já ganhou minha amizade sem eu nem mesmo conhecê-lo. Pássaro Negro, onde estará você?