Fantasmas do Século XX

Joe Hill se tornou famoso logo no lançamento de seu primeiro livro, A Estrada da Noite, uma ficção de terror cuja história atormentou muita gente. Com O Pacto, mostrou ainda mais seu poder de aterrorizar os leitores, pois seu crescimento literário foi visível em relação ao primeiro livro. Já com Fantasmas do Século XX, livro que reúne uma coletânea de contos, o gênero terror não é o ponto principal. O que predomina em todas as páginas é sua capacidade de envolver e fascinar quem lê, mesmo o sobrenatural e o suspense passearem por todos os cantos. Quem começa a ler querendo se assustar, pode não gostar. Mas quem tem a mente aberta e apenas o desejo de ler um bom livro, vai se emocionar e se envolver de uma maneira tão única pelos personagens que será difícil de esquecer.

Quase todos os livros de contos seguem uma regra, e a maioria tem que concordar comigo: uma intercalação entre histórias excelentes, outras medianas e algumas nem tão boas assim. Fantasmas do Século XX, porém, foge totalmente dessa regra. Dos dezessete contos que compõem o livro, todos são tão bem narrados e bem escritos que não deixam a desejar em nenhum momento. É claro que alguns são melhores que outros, a isso é impossível escapar, mas até mesmo os contos que não são tão bons quantos os melhores são fascinantes o bastante para que não nos cansemos durante o desenrolar da história. E em nenhum momento encontrei características em um dos contos que me faria dizer algo como: "Se não fosse por esse conto, o livro seria perfeito". Todas as histórias são perfeitas de maneiras próprias, o que acaba gerando um livro único.

Gostaria de fazer um pequeno resumo de cada conto, mas como são dezessete, a resenha não teria fim. Por isso faço pequenas observações dos que mais gostei:

"O melhor do novo horror" tem um ar um tanto quanto pastelão, mas cria bem seu clima como ponto de partida para todos os outros contos que vieram a seguir. "Fantasmas do século XX", conto que dá nome ao livro, nos leva a um cinema assombrado por uma garota, longe de aterrorizar, mas perto o bastante para gelar a espinha. "Pop Art" me deixa quase sem palavras. Melancólico e triste, nos apresenta a um personagem e uma história tão fascinantes que faz de todo o livro imperdível de ser lido. "Último Suspiro" é o conto mais criativo, trazendo um estranho museu que expõem sua coleção de últimos suspiros de personalidades famosas, como Edgar Alan Poe e Roald Dahl. "A capa" sem dúvida fica entre as melhores: um homem capaz de voar ao colocar sua antiga capa de criança, tão bem narrado que parece quase real e traz um final um tanto inesperado. "A máscara do meu pai" e "Internação voluntária" são tão perturbadores que ao acabarmos a leitura sentimos até um certo alívio. Alívio de tudo ter acabado, e alívio por nada daquilo ser real.

Ao ler este livro, muitos devem estar pensando que Joe Hill fará como o pai, Stephen King: escreverá livros de terror, mas também outros livros onde o terror passa bem longe e o drama é mais predominante. Mas vale ressaltar que os contos de Fantasmas do Século XX foram escritos em revistas entre os anos de 1999 e 2005, bem antes de A Estrada da Noite e O Pacto serem escritos. Se ele depois irá escrever livros como este, isso é incerto. Mas podemos ter a certeza de que o autor nasceu no suspense e no drama, e não no horror como o pai.

Mais do que um simples escritor, Joe Hill chega à excelência. Seu melhor feito, com certeza, é terminar a maioria dos contos não com um ponto final, e sim, com um ponto de interrogação. Quem imagina e constrói os finais dos contos não é o autor, e sim, o leitor. E isso nos faz mais do que tudo partes integrantes da história e de toda a ação, aumentando ainda mais nossa melancolia nos contos dramáticos e nosso pânico nos contos angustiantes. Se quer participar dessa maneira de um livro, leia Fantasmas do Século XX. Sua visão de livros de contos nunca mais será a mesma.

O Herói Perdido

Para que um autor faça sucesso, não é necessário muita coisa. Com a febre de temas sobrenaturais que vem ocorrendo atualmente, basta criar um livro com vampiros, bruxos e lobisomens que a fama será quase certa. Mas escrever uma grande história, com personalidades fortes e que atuam em aventuras épicas, em um livro que será marcante para toda uma geração, isso é para poucos. 

Pois foi o que Rick Riordan conseguiu fazer ao criar a série Percy Jackson e os Olimpianos, uma das séries mais originais e criativas lançadas nos últimos tempos. Porém, grandes autores devem saber usar bem seus dons de escrita. Podem continuar escrevendo outros livros de mesma maneira ou até maior genialidade, ou a fama pode lhes subir a cabeça e resultar numa composição de histórias nem tão boas assim. Por estranho que pareça, Rick Riordan seguiu por estes dois caminhos.

Por um lado, temos "A Pirâmide Vermelha", em que Riordan mostrou claramente o que acontece quando um autor é atingido pela fama repentina. Um livro com uma história sem nem um pouco de emoção, com personagens que deixam a desejar e um humor que tenta fazer rir, mas não consegue em momento algum. Poderíamos dizer até que é plágio de "O Ladrão de Raios" se os dois livros não fossem escritos pelo mesmo autor. O único consolo é imaginar que a continuação será melhor, pois se não for, não há nada que salve "As Crônicas dos Kane". 

Por outro lado, podemos ver "O Herói Perdido", que felizmente não se mostra uma cópia malfeita dos outros livros do autor como era de se esperar. Vários pontos se apresentam bem semelhantes, é verdade, mas o livro se mostra como uma continuação da série Percy Jackson. Uma continuação que, sem dúvida, não deixa nem um pouco a desejar.

Ambientado no Acampamento Meio-Sangue, o mesmo da série Percy Jackson, a história de "O Herói Perdido" se passa poucos meses após a grande guerra contra os Titãs, que teve fim em "O Último Olimpiano". Seu ponto de partida é uma profecia terrível que irá repercutir na vida de todos os semideuses:

Sete meio-sangues responderão ao chamado.
Em tempestade ou fogo, o mundo terá acabado.
Um juramento a manter com um alento final,
E inimigos com armas às Portas da Morte afinal.

Para quem não esperava encontrar alguém tão engraçado e carismático quanto Percy, aqui podemos ver três personagens que dividem a cena: Jason, a coragem e a força; Piper, a beleza e a persuasão; e Leo, o humor e o cérebro. Revezando-se durante todo o livro em seus pontos de vistas, ao final da última página sentimos um leve desconforto por abandoná-los, pois são personagens extremamente distintos entre si, mas que se completam e que deixam saudades. Além deles, antigos personagens, como Annabeth, Thalia e Quíron, marcam presença, e outros como Festus e o Treinador Hedge, chegam para completar a turma.

O número de personagens das antigas lendas gregas é vasto, mas um dia estes seres mitológicos iria se esgotar, pois não há quantidade suficiente que suporte uma série inteira de livros sem repeti-los. Mas Riordan, mesmo depois de abranger deuses, monstros, heróis, seres e espíritos da natureza, dentre vários outros, ainda consegue se superar. Embora os personagens mais famosos da mitologia grega tenham aparecido durante as aventuras de Percy, desta vez quem ganha a cena são alguns não tão conhecidos, como os deusos do vento, além de importantes mortais da antiguidade que há muito estavam mortos, mas agora voltaram, como Rei Midas e Medeia, trazendo as melhores cenas de todo o livro. E para melhorar ainda mais, podemos ver outro lado dos deuses. Seus lados romanos são mais abordados, e se deuses gregos e romanos pareciam ser semelhantes no início, no fim as diferenças são incontáveis. Velhos deuses, que ainda não haviam aparecido muito, ganham seu espaço, como Hera e Afrodite.

Enfim, "O Herói Perdido" não erra em momento algum. A linha de Percy Jackson é mantida, isso não há dúvida, mas tudo é tão bem narrado e cheio e ação que não há como não gostar. A aparição de três personagens principais fez com que o livro ficasse mais do que fascinante, apresentando também mistério, detalhes inúmeros e um pouco de complexidade, pois são três histórias para serem contadas. Jason e sua falta de memória, Piper e seus sonhos sinistros, e Leo e sua Tía Callida, garantiram um enredo imensamente sedutor e difícil de largar. Mais uma grande série de Rick Riordan, que começa de maneira formidável e parece contar com ainda mais batalhas, lutas e monstros de peso pela frente. Que venha os próximos volumes, com todas as tristezas e saudades que irão deixar!