Perseguido Mateus Calazans 8/29/2010

Estou um pouco enferrujado quanto às histórias de terror, por isso, espero que gostem dessa. Para falar a verdade, o que era para ser uma história de terror, acabou se transformando em algo bastante cômico e idiota. Mesmo assim, espero que aproveitem.

Noite escura. A lua, encoberta por nuvens, não deixava escapar nem um raio dourado. Eu andava pela rua, cantarolando feliz. Por mais que tudo se mantivesse silencioso e sombrio, uma música suave ecoava em meus ouvidos. Pela primeira vez, a garota mais linda do colégio havia saído comigo, e nada iria conseguir acabar com minha alegria.

Foi quando ouvi o primeiro ruído, e pensei que fosse minha imaginação.

PLOCT PLOCT PLOCT ARGH

Pareciam cascos e bramidos de um animal. Com o segundo ruído, fiquei petrificado e percebi que era algo real, concreto e bastante assustador.

PLOCT PLOCT ARGH PLOCT ARGH

Sem perceber, comecei a correr. Não importava o que fosse, fazendo um barulho assim, com certeza não seria algo bom. A princípio, pensei estar a salvo, mas o barulho de cascos começou novamente. Nunca algo tão assustador acontecera comigo.

PLOCT PLOCT ARGH

Corri mais ainda, mas, sem aviso, recebi um golpe nas costas que me jogou ao chão. Caí com força e dolorosamente na calçada, batendo a cabeça em um poste. Minhas vistas escureceram. Quando começaram a voltar lentamente, preferia que estivesse cego.

Na minha frente se encontrava a criatura mais horrível e bizarra que eu veria em toda a minha vida. Um animal, um ser, um monstro. Seu corpo era de bode ou carneiro, todo peludo e cheio de sangue. Seu tamanho era descomunal, se assemelhando a um cavalo com sérios vícios em anabolizantes. O mais assustador, porém, era sua cabeça deformada. Não era uma cabeça de bode ou carneiro, mas sim, uma cabeça humana, longa e com chifres enormes sobre ela. Os olhos eram saltados e esbugalhados, como se a criatura tomasse café o tempo todo e nunca houvesse dormido. Eram olhos injetados de sangue que diziam: "Vou te comer".

Com olhos dizendo tal coisa, a única ação que consegui realizar foi voltar a correr. No entanto, a criatura não iria deixar seu jantar ir embora tão fácil. Fui lançado ao chão mais uma vez, e por pouco não tive a cabeça despedaçada de encontro ao meio fio. Quando menos esperava, senti uma pontada nas costas: um dos chifres descomunais havia me perfurado. Rolei para um lado, e a criatura veio sobre mim com uma rapidez surpreendente. Abriu a grande boca com dentes afiados e pontiagudos e mordeu minha orelha esquerda. A vi na boca do monstro, e a dor era insuportável.

Quando pensei que não, consegui rolar para um lado. Duas surpreendentes luzes apareceram por trás do monstro. Pensei, desconsolado: "Pronto, a Luz da Chapada veio se juntar a seu amigo para me comer". Mas as duas luzes jogaram o monstro a vários metros de distância. Era um carro.

O monstro literalmente havia voado e caído de cabeça no chão. Um dos chifres se quebrou, assim como aparentemente uma das patas. Para meu alívio, a criatura saiu mancando rapidamente rua abaixo. Não iria me importunar mais, eu estava a salvo... Com um galo na cabeça, sem a orelha esquerda e com sangue por toda parte. Mas são e salvo.

A motorista do carrou desceu do veículo e perguntou: "Você está bem?". 

"Claro, respondi. "Como pode ver, estou maravilhosamente bem".

Enchendo os pulmões, a mulher gritou para que nenhuma pessoa da cidade deixasse de ouvir: "Um chupa cabra está solto!"

"Espera aí", eu disse rápido. "Tenho cara de cabra?".

O Lugar Escondido - Parte Final Mateus Calazans 8/03/2010

Assim Danny foi vivendo. Todos os dias, logo quando chegava da escola, ia para o Lugar Escondido e ficava por lá a tarde toda, se divertindo pra valer. Há cada dia, Danny fazia surgir algo diferente: brinquedos inovadores, estantes e mais estantes de livros, animais estranhos e às vezes ameaçadores, computadores da mais alta tecnologia e até mesmo cidades inteiras.

O mais sensacional do Lugar Escondido é que ele parecia não ter fim. Se Danny quisesse, na sua frente aparecia uma pequena formiga, um oceano sem fim ou até mesmo o Egito com suas pirâmides e esfinges. O único porém é que Danny ficava o tempo todo sozinho. Não queria que mais ninguém entrasse em seu Lugar Escondido. Proibiu a todos de entrar em seu quarto, e havia tapado o buraco no chão com um tapete bem grande.

Certo dia na escola, a professora propôs aos alunos que contassem a um de seus amigos um segredo. Danny ficou muito indeciso se contava seu grande segredo ou não, até que, cansado pelo fato de estar sempre sozinho, se decidiu e falou tudo sobre o Lugar Escondido para Suzy. Como ela não acreditava, Danny a levou para sua casa e mostrou o lugar em que passava a maior parte de seu tempo. Suzy se maravilhou com pôneis coloridos, bonecas enfeitadas que falavam e cidades maravilhosas. Tudo isso apareceu graças a Danny, que tentava impressionar a garota. Suzy então prometeu guardar segredo, e assim, foi embora.

No dia seguinte, um sábado ensolarado e límpido, Danny acordou feliz da vida, bolando novos planos e aventuras para fazer no Lugar Escondido. Quando a campainha tocou, não imaginou que fosse nada de mais. Mas ao abrir a porta, se deparou com todas as pessoas de sua escola. Suzy estava no meio deles, e gritou bem alto:

- Queremos ver o Lugar Escondido!

Como Danny os impedia de entrar, ele foi derrubado no chão, e todos os alunos de sua escola entraram correndo e foram ao seu quarto. Danny correu atrás deles, mas já era tarde: haviam descido a escada para o Lugar Escondido. Todos gritavam seus mais extravagantes desejos e se deliciavam quando os pedidos eram atendidos. Ficaram por lá a tarde toda, até que foram embora. Mas passados apenas alguns minutos, outras pessoas da cidade chegaram para ver o Lugar Escondido. Depois de alguns dias, toda a cidade havia visitado o lugar, e todos se maravilharam com ele. Na televisão esse era o assunto mais comentado, e diversas pessoas de outros países chegavam constantemente para fazerem tudo o que queriam naquele lugar maravilhoso.

Passado um mês, as coisas continuavam as mesmas: o Lugar Escondido estava constantemente atulhado de gente, pedidos e ordens eram gritadas no local, e tudo era atendido prontamente. Danny já não entrava lá. Seus pais passaram a cobrar de todos que quisessem entrar no local, e assim, faturaram um bom dinheiro. Danny se entristeceu, ficou doente. Queria ir ao local que tanto lhe agradara antes, mas seus pais não deixavam. Depois de muito insistir, acabou conseguindo permissão para ir até lá.

O Lugar Escondido não era mais como antigamente. Para começo de conversa, estava cheio de pessoas. Centenas, talvez milhares. E o barulho era ensurdecedor, todos pedindo coisas ao mesmo tempo. Danny resolveu fazer um pedido também e gritou:

- Quero um pedaço de frango!

E o frango apareceu em um prato, mas estava duro, frio e com gosto ruim. O Lugar Escondido não era mais como antigamente.

De repente, um tremor correu o local. Todas as pessoas se calaram, escutando. E então todo o Lugar Escondido começou a tremer intensamente, e as pessoas começaram a gritar:

- Terremoto! Terremoto!

Correram rápido para a escada, e depois de algum tempo, todos haviam subido para o quarto de Danny. Apenas o pobre garoto ficara para trás, pois ficara paralisado de tanto medo. Então houve uma grande explosão, tudo ficou claro e no momento seguinte veio a escuridão.

Danny abriu lentamente os olhos. Havia apenas uma escuridão sem fim. Gritou bem alto:

- Quero ir para casa!

Mas nenhuma escada apareceu. Fez outros pedidos, e todos se realizaram. Mas o pedido para ir embora não era atendido. Viu que ficaria preso ali para sempre, e começou a chorar. Chorava e chorava, pois estava triste, sozinho e lamentava o fato de que nunca mais veria ninguém. Então gritou:

- Queria tanto que alguém aparecesse!

A princípio nada aconteceu. Apenas escuridão. Mas então uma luz se ascendeu, e à sua frente, uma linda garota surgiu. Ela falou bem baixinho:

- Não fique triste, Danny, estou aqui com você.

Danny não estava mais chorando, levantou feliz e abraçou a garota. Ela era a garota com quem Danny sonhava todos os dias, mas que imaginava nunca encontrar. Dando-se as mãos, os dois começaram a fazer os mais extravagantes desejos e se divertir. Dizem que até hoje os dois estão juntos, felizes e se divertindo, pois o lugar em que estão é o lugar de sonhos, onde tudo pode acontecer... O Lugar Escondido.

O Lugar Escondido - Parte Um Mateus Calazans 8/03/2010

Danny era um garoto meio louco. Tudo bem que de médico e louco todo mundo tem um pouco, mas Danny era mais louco do que médico. Vivia num estado de hiperatividade constante, e na escola era piada certa. Não possuía nenhum amigo. A única pessoa com quem conversava era Suzy, a garota popular da escola. Mas ela conversava com Danny apenas por mero interesse, pois Danny era gamado por ela e fazia tudo o que Suzy queria, desde comprar coisas absurdamente caras até se atirar no chão para Suzy pisá-lo e não sujar os pés.

O que Danny mais gostava de fazer era pular em seu quarto. Pulava de um lado para outro, feliz, sozinho, dando gritinhos de alegria. Achava que nada havia de melhor em sua vida.

Em uma noite escura, quando a lua cheia reinava sobre o céu estrelado, Danny estava mais uma vez pulando em seu quarto. Neste dia ele não estava feliz, pois havia brigado com Suzy. Lágrimas corriam lentamente pelo seu rosto. Não sei se Danny havia engordado, ou se o chão estava podre, mas o fato é que ao final de um de seus saltos, o chão cedeu sob seus pés.

Por alguns instantes ele esteve desmaiado, mas quando abriu os olhos, viu que estava em um lugar de completa escuridão. Não encontrava nem seu próprio pé. O susto passou e veio então a angústia e o medo. Após uma hora chorando e tremendo, Danny já não aguentava mais. Gritou bem alto:

- Estou com tanta fome!

No mesmo instante em que disse a palavra fome, uma pequena luz apareceu no escuro. Então um grande clarão se ascendeu, ofuscando Danny por alguns instantes. Quando abriu os olhos, a escuridão havia sumido. Em seu lugar havia aparecido uma mesa imensa e farta, cheia de todos os tipos de comida existentes no mundo. Havia tortas, bolos, salgados, sorvetes, doces, dentre vários outros petiscos, alguns até impossíveis de serem identificados. Danny por alguns minutos se deslumbrou com as comidas, mas logo resolveu comer de tudo o que via.

Após algum tempo, estava farto de tanto comer. Havia se deliciado com todas as suas comidas preferidas e mais um pouco. O único problema é que na mesa imensa não havia aparecido nenhuma bebida. Decidiu-se e gritou bem alto:

- Estou com tanta sede!

Da mesma forma que falou da primeira vez, um grande clarão se acendeu, seguido por uma mesa repleta de copos com todas as bebidas imagináveis. Após beber tudo o que podia dos deliciosos sucos, refrigerantes, cidras e bebidas sem nome, Danny ficou com vontade de ir ao banheiro. Disse as palavras como antes, e assim, diversos vasos sanitários apareceram, com as mais diversas formas, modelos e cores. Se aliviou em um vaso azul com bolinhas laranjas e, já conhecendo o jogo daquele lugar, gritou alto:

- Quero ir embora!

E assim, uma grande escada espiralada apareceu à sua frente. Cada degrau era de uma cor, e Danny foi subindo devagar. Quando chegou ao topo da escada, percebeu que se encontrava em seu quarto. Após sua pequena visita ao lugar misterioso, Danny passou a ficar o tempo todo por lá. Bastava desejar, e todos os seus mais secretos sonhos e desejos eram prontamente realizados. Lugar Escondido: este foi o nome que Danny deu ao local, e onde por muito tempo foi feliz.