O garoto estava sentado debaixo da árvore da esquina
Sentindo o vento em seu corpo.
O cabelo a balançar no azul.
A pele arrepiar devagar.
Em meio a um arrepio longo.
Que fez todo seu corpo tremer.
Levanta e começa a andar.
Andar devagar e de cabeça erguida.
Passa em frente a sua casa e a mãe grita:
"Vem pra casa, menino!"
Ele finge não ouvir.
É melhor não olhar para trás.
Começa a cantar enquanto anda.
Cantar, não.
Cantarolar.
Uma música que desperta algo dentre dele.
O garoto passa pela vizinha da casa à esquerda.
Que estava varrendo o passeio.
Seus olhos se arregalam quando vê o garoto.
A vassoura cai no chão.
Ela está séria.
Séria demais.
Mas se junta a ele e começa a andar.
Também com música nos lábios.
Surge um mendigo.
Vem mancando junto a eles.
Deixa os trapos e as misérias para trás.
E começa também a cantarolar.
O número de pessoas vai aumentando enquanto andam.
Algumas dezenas.
Ou centenas.
Juntos a andar.
Velhos, crianças e adultos.
Com um único propósito.
Colocar um pé em frente ao outro.
E sempre continuar a marchar.
Era uma marcha.
Uma, não.
A marcha da cidade.
A marcha da vida.
Todos marchavam e cantarolavam.
E a música não era apenas um som.
Mas um ser a mais.
Que formava uma bolha em torno de todos eles.
A música cresceu e chegou até o céu.
Alcançando os pássaros.
E as nuvens brancas que dançavam.
Com o azul ficando mais forte.
As pessoas começaram a flutuar dentro da bolha.
Erguidas pela música que ecoava alto.
Mas voavam juntas.
Porque o cantarolar os unia.
Um pássaro desavisado chegou pelo céu.
E esbarrou na bolha.
Que estourou com um barulho alto.
As pessoas piscaram.
E começaram a cair no chão.
Devagar e sem sobressaltos.
Mas não o garoto.
Que continuou a flutuar cada vez mais alto.
Sozinho.
Porque a música não veio para ele com a marcha.
Ele possuía a música dentro de si.
Que continuou a erguê-lo.
Ele subiu alto, alto demais.
Até que desapareceu no ar.
E uma estrela surgiu no céu onde foi visto pela última vez.
Sentindo o vento em seu corpo.
O cabelo a balançar no azul.
A pele arrepiar devagar.
Em meio a um arrepio longo.
Que fez todo seu corpo tremer.
Levanta e começa a andar.
Andar devagar e de cabeça erguida.
Nuages blancs, ciel bleu - Engène Boudin - 1859 |
Passa em frente a sua casa e a mãe grita:
"Vem pra casa, menino!"
Ele finge não ouvir.
É melhor não olhar para trás.
Começa a cantar enquanto anda.
Cantar, não.
Cantarolar.
Uma música que desperta algo dentre dele.
O garoto passa pela vizinha da casa à esquerda.
Que estava varrendo o passeio.
Seus olhos se arregalam quando vê o garoto.
A vassoura cai no chão.
Ela está séria.
Séria demais.
Mas se junta a ele e começa a andar.
Também com música nos lábios.
Surge um mendigo.
Vem mancando junto a eles.
Deixa os trapos e as misérias para trás.
E começa também a cantarolar.
O número de pessoas vai aumentando enquanto andam.
Algumas dezenas.
Ou centenas.
Juntos a andar.
Velhos, crianças e adultos.
Com um único propósito.
Colocar um pé em frente ao outro.
E sempre continuar a marchar.
Era uma marcha.
Uma, não.
A marcha da cidade.
A marcha da vida.
Todos marchavam e cantarolavam.
E a música não era apenas um som.
Mas um ser a mais.
Que formava uma bolha em torno de todos eles.
A música cresceu e chegou até o céu.
Alcançando os pássaros.
E as nuvens brancas que dançavam.
Com o azul ficando mais forte.
As pessoas começaram a flutuar dentro da bolha.
Erguidas pela música que ecoava alto.
Mas voavam juntas.
Porque o cantarolar os unia.
Um pássaro desavisado chegou pelo céu.
E esbarrou na bolha.
Que estourou com um barulho alto.
As pessoas piscaram.
E começaram a cair no chão.
Devagar e sem sobressaltos.
Mas não o garoto.
Que continuou a flutuar cada vez mais alto.
Sozinho.
Porque a música não veio para ele com a marcha.
Ele possuía a música dentro de si.
Que continuou a erguê-lo.
Ele subiu alto, alto demais.
Até que desapareceu no ar.
E uma estrela surgiu no céu onde foi visto pela última vez.
Marcadores: História
Por que pensei n'Os Miseráveis?
ResponderExcluir"Do you hear the people sing, singing the song of angry men..."
Ah, Mari, não é para tanto, mas obrigado, haha.
ResponderExcluirOi!
ResponderExcluirMuito bonito seu texto. Uma pena que contágio é diferente de possuir. O menino do poema possuía a música e isso o impulsionava, nada poderia quebrar esse encanto, o que é seu não pode ser tirado, enquanto aquelas pessoas foram tomadas pelo momento e a sensação que o cantarolar do garoto proporcionava, mas isso não queria dizer que aquilo estava nelas também.
Achei muito bonito.
Beijo.