Caro amigo,
Estou deitado na cama e não sinto mais o vento. Passo as
mãos em meus braços, fingindo ser outra pessoa, mas nenhum contato muda o fato de
ser o vazio o único companheiro da pele.
Tracei bonitos sonhos em meus dias, pincelando emoções que
nunca vivi e sempre almejei impacientemente. Esperei um sorriso que não existe,
desejei o amparo que não mereço, busquei mãos que nunca poderei sentir. Estou
cansado e estou indo embora.
Pensei em mil maneiras para me despedir, mas nenhuma delas faria
jus aos meus sentimentos ou ao que você merece ouvir. Eu deveria ser capaz de fazer
nascer flores com as palavras, assim como deveria cortar o mundo em pedaços por
você. Mas não tenho forças nem capacidade para tanto.
Na falta de tudo e de todos, na falta de nome e sobrenome,
deixo as palavras de Drummond:
O mundo não vale o mundo, meu bem.
Eu plantei um pé-de-sono,
brotaram vinte roseiras.
Se me cortei nelas todas
e se todas se tingiram
de um vago sangue jorrado
ao capricho dos espinhos,
não foi culpa de ninguém.
Para você, deixo as vinte roseiras tingidas de vermelho. Talvez se o socorro saísse de meus lábios mais cedo, você poderia me ajudar a cortar os espinhos. Mas qual seria a graça do mundo sem espinhos e um pouco de sangue derramado? É uma pena eu me afogar.
O mundo não vale o mundo, meu bem.
Eu plantei um pé-de-sono,
brotaram vinte roseiras.
Se me cortei nelas todas
e se todas se tingiram
de um vago sangue jorrado
ao capricho dos espinhos,
não foi culpa de ninguém.
Para você, deixo as vinte roseiras tingidas de vermelho. Talvez se o socorro saísse de meus lábios mais cedo, você poderia me ajudar a cortar os espinhos. Mas qual seria a graça do mundo sem espinhos e um pouco de sangue derramado? É uma pena eu me afogar.
Saiba que sinto meu rosto úmido e o gosto de sal em meus
lábios, mas estou bem. Queria que você soubesse que nem todas as pessoas nascem
para desfrutar a vida como ela deve ser vivida. Algumas pessoas são fracas o
bastante para sair mais cedo, à francesa.
Silencioso como nobre samurai, corri e lancei a espada do desespero
na garganta de meu maior inimigo. Não acertei. Desferi um golpe contra meus maiores medos,
e tingi mais vinte roseiras de vermelho. Era um espelho, e tentava ferir a mim
mesmo. Só queria que você soubesse que tentei com todas as minhas forças.
Com você meus dias foram um pouco mais fáceis, mas eu jamais
poderia arrasta-lo para a luz negra que está me consumindo. Eu desejo um futuro
bonito e sincero para você, e que continue sempre a pintar o quadro dos mil e um desejos. É bonito demais ver pessoas que são elas mesmas, mesmo com todos os
medos e dúvidas. E você é assim.
Em todas as minhas histórias, os meninos, seres e homens
eram sempre peças quebradas, prontas para serem consertadas. E eu, mentor
supremo de todas as narrativas, conseguia consertar todas elas. Mas eu não
tenho conserto e nem consigo encontrar pessoas para me ajudar.
Não é culpa sua e nem de ninguém. Não é culpa do mundo, de
Deus ou do destino. Não existem culpados ou inocentes. Às vezes os fatos
ocorrem simplesmente porque devem ocorrer. Só não esqueça de minhas lágrimas
quando olhei para o Infinito. Elas eram o que existia de mais bonito em mim.
Para sempre seu,
M.
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