Como já havia dito antes, minhas histórias são extremamente pequenas, e essa acredito ser a menor. Ainda assim, acho que vale o esforço. Escrevi a criatura da história pensando em um vampiro, mas depois vi um certo ar de lobisomem ou até mesmo um reles assassino de beco. Mas isso vai da imaginação de cada um.

Olhos

A lua cheia domina o céu, e embora acredite em muitas crendices, Ted Howan continua andando pela rua escura. Ele tem que chegar em sua casa rapidamente, pois seu filho precisa de leite, e se demorar, ele poderá morrer de fome.

Seu bairro decrépito não emite luz, e mal vê o vulto escuro andando ao seu lado. Dois olhos estão à espreita, mas ele não percebe.

Uma grande pedra âmbar é sua ruína: tropeça e cai de barriga para cima. Então vê os olhos. Lindos olhos brilhantes e famintos. Sente-se reconfortado, uma grande paz abate-se sobre ele. Olhos que lhe mostram o que já aconteceu e o que ainda acontecerá. Olhos vermelhos da cor de sangue. Sua vida toda passa por eles: seus sonhos, seus amores, seus desejos.

É então que a capa do ser sombrio é abaixada, permitindo-se ver a sua boa grotesca, com dentes pontiagudos e língua escura. Quando recebe a primeira dentada já é tarde. Percebe o que vai lhe acontecer. O leite escapa de sua mão e se espalha pelo chão: é a morte de seu filho, assim como a sua. Ted Howan volta a prestar atenção nos olhos. 

Olhos. Apenas olhos.