Diversas vezes já me perguntei o que faz um livro ser realmente especial. Esta é a grande questão para todos os leitores, não? Percebi que os melhores não são aqueles escritos por um autor famoso, nem os que possuem capas chamativas e atraentes, e nem mesmo os orlados por títulos interessantes. O que, acima de tudo, faz com que um livro seja realmente especial e único, é o modo como a barreira de ficção e realidade é quebrada durante a leitura. 

Mas não apenas isso. É também seu modo de tocar nossa alma e nosso coração de uma maneira tão singular, tão incrível, que não esquecemos jamais. O Dia do Curinga, além de ser escrito por um grande autor, ter uma capa chamativa e um título mais do que interessante, é capaz de tocar fundo na vida de todos os leitores. Posso dizer com toda a certeza que meu modo de ver o mundo e as pessoas nunca mais será o mesmo após tê-lo lido.

O livro conta a história de Hans-Thomas, um garoto de doze anos que se mostra extremamente inteligente e um tanto sonhador. Junto de seu pai, filósofo e beberrão, cruza a Europa em um carro vermelho rumo à Grécia, onde espera encontrar sua mãe, que havia se mudado para o país há muitos anos querendo se encontrar. No caminho, porém, se depara com um estranho anão das mãos geladas que lhe dá uma pequena lupa de presente. 

A princípio, tal objeto parecia ser inútil para Hans-Thomas. Mas após um pequeno desvio de rota, o garoto descobre seu uso: ler um livro minúsculo achado dentro de um pão. Um livro que lhe permite conhecer uma linhagem de padeiros, peixes coloridos, cartas de baralho, bebidas maravilhosas, uma ilha misteriosa e claro, o dia do curinga. Uma história tão fascinante que muda não apenas a vida de Hans-Thomas, mas também de nós leitores.

O mundo criado por Jostein Gaarder nesta obra é quase impossível de se esquecer. Ao acompanhar a história, somos abordados por questões filosóficos como "de onde viemos?", "quem somos?", "por que estamos aqui?". Aliás, o tema filosófico é ponto chave do autor, mas em O Dia do Curinga é tratado de maneira mais moderada. Em O Mundo de Sofia, sua obra mais famosa, confesso que fiquei um tanto entediado com tanta filosofia em um só romance. Não desmerecendo o livro, é claro, pois é também outro que fascina e envolve, mas a história tem filosofia demais. Em o Dia do Curinga, porém, a filosofia está bem ali, sendo abordada a cada capítulo, mas em um plano secundário. Tem um grande papel, mas não torna a leitura cansativa em nenhum momento. Com isso, o enredo promete maravilhar qualquer tipo de leitor.

Mais do que um simples e pequeno livro, O Dia do Curinga se mostrou uma obra complexa e de narrativa tão diferenciada que desejei que nunca tivesse fim. Além de transmitir a mensagem de que nossa imaginação pode ser responsável por mudanças, fiquei tentado também a dar personalidade a cartas de baralho, como acontece no livro. Loucura ou não, tenho certeza que todos que leram sentiram a mesma coisa. Ou será que apenas eu acredito que cartas de baralho são objetos além do que pensamos, e sou o único que me considero um curinga?