Ele trabalha, ele estuda, ele está o tempo todo cansado. Diverte-se com livros e filmes nos finais de semana, sonha com a paz mundial, espera encontrar uma alma gêmea algum dia. A. S. revela pequenos detalhes de sua vidinha ridícula.

Antes de mais nada, conte um pouco sobre o senhor. Quem é A. S.?
Eu não sei falar sobre mim. Acho que existem dois tipos de pessoas: as normais, que agem de acordo com as normas da sociedade e são como a maioria; e as loucas, que agem totalmente contra o mundo e fazem o que bem entendem. Eu estou bem no meio desses dois grupos, em um limbo indefinido e sem características claras. Sou estranho demais para ser considerado normal, mas estável o suficiente para não ser chamado de louco. Sou apenas mais um ser humano estúpido querendo ser alguém, dá pra entender?

Não entendo, mas tudo bem. A. S., explique melhor como é estar nesse limbo, que, como dito pelo senhor, é um lugar indefinido e sem características claras. Como seria isso?
Estar no lugar em que estou é não fazer parte de nada. Eu não tenho nenhum grupo específico a quem me apegar, nenhuma ideologia pela qual fazer parte, nenhuma ideia pela qual defender. Isso é complicado, sabe? Na maioria das vezes, me sinto um peixe fora d'água e incapaz de dizer qualquer tipo de coisa sobre qualquer assunto.

Mas o senhor realmente não tem nenhuma ideia a respeito de nada?
Essa é uma questão complicada. Quase sempre eu sou totalmente indiferente a tudo, não importa a discussão. Por exemplo, sobre o aborto, que tantas pessoas defendem e tantas outras são contrárias, eu poderia dizer que sou a favor, pois acho que as mulheres tem total liberdade de escolha com o próprio corpo e isso não é algo para outras pessoas decidirem. Mas se alguém vier dizer alguns bons argumentos contrários, como o fato de Deus não permitir o aborto, e isso ser algo perigoso para as mulheres, eu também vou concordar, ficar indeciso e sem saber o que dizer. Bem capaz de eu discordar do que eu pensava antes. Mas assim que as pessoas saírem, vou esquecer completamente o assunto e me tornar indiferente de novo.

Não seria mais fácil estudar sobre um determinado tema, para criar argumentos fortes e o senhor ser capaz de defender suas próprias ideias?
É mais fácil falar do que fazer. Eu bem que queria estudar sobre algo e as ideias fixarem na minha mente, mas isso dificilmente acontece. Desde meus tempos de escola, era só ler um texto para uma prova que horas depois já não me lembrava de absolutamente nada do que havia lido. Imagina ter ideias, saber argumentar ou discutir? Nunca poderia fazer isso, tremo só de pensar. As palavras entram na minha mente e logo depois escorrem pelos ouvidos.

Mas como o senhor se sente sobre isso?
Eu me sinto bem mal, quase sempre. Todas as pessoas discutem o tempo todo, sabem falar sobre tudo, ou pelo menos possuem algo para defender ou lutar. Eu não tenho nada. Acho que sou bom só de ouvir os outros.

E quanto às questões sociais, na revitalização da mídia e nas reviravoltas do campo político em que estamos inseridos atualmente? 
Não entendi absolutamente nada da sua pergunta. Até poderia pedir para você repetir, mas tenho certeza que ainda assim não entenderia e não saberia responder.

Para finalizar, dê algum conselho para as outras pessoas como o senhor.
Não acho que existam outras pessoas como eu. Pelo menos, é o que eu desejo de todo o coração, pois só uma pessoa como eu já é o suficiente no mundo. Mas se há alguém aí um pouco parecido comigo, digo só uma coisa: tome vergonha na cara e vá ser alguém. Simples assim. Agora me deixe em paz.

Este foi A. S. e seu limbo particular. A entrevista é ruim, mas a fonte sempre é segura.