Para que um autor faça sucesso, não é necessário muita coisa. Com a febre de temas sobrenaturais que vem ocorrendo atualmente, basta criar um livro com vampiros, bruxos e lobisomens que a fama será quase certa. Mas escrever uma grande história, com personalidades fortes e que atuam em aventuras épicas, em um livro que será marcante para toda uma geração, isso é para poucos. 

Pois foi o que Rick Riordan conseguiu fazer ao criar a série Percy Jackson e os Olimpianos, uma das séries mais originais e criativas lançadas nos últimos tempos. Porém, grandes autores devem saber usar bem seus dons de escrita. Podem continuar escrevendo outros livros de mesma maneira ou até maior genialidade, ou a fama pode lhes subir a cabeça e resultar numa composição de histórias nem tão boas assim. Por estranho que pareça, Rick Riordan seguiu por estes dois caminhos.

Por um lado, temos "A Pirâmide Vermelha", em que Riordan mostrou claramente o que acontece quando um autor é atingido pela fama repentina. Um livro com uma história sem nem um pouco de emoção, com personagens que deixam a desejar e um humor que tenta fazer rir, mas não consegue em momento algum. Poderíamos dizer até que é plágio de "O Ladrão de Raios" se os dois livros não fossem escritos pelo mesmo autor. O único consolo é imaginar que a continuação será melhor, pois se não for, não há nada que salve "As Crônicas dos Kane". 

Por outro lado, podemos ver "O Herói Perdido", que felizmente não se mostra uma cópia malfeita dos outros livros do autor como era de se esperar. Vários pontos se apresentam bem semelhantes, é verdade, mas o livro se mostra como uma continuação da série Percy Jackson. Uma continuação que, sem dúvida, não deixa nem um pouco a desejar.

Ambientado no Acampamento Meio-Sangue, o mesmo da série Percy Jackson, a história de "O Herói Perdido" se passa poucos meses após a grande guerra contra os Titãs, que teve fim em "O Último Olimpiano". Seu ponto de partida é uma profecia terrível que irá repercutir na vida de todos os semideuses:

Sete meio-sangues responderão ao chamado.
Em tempestade ou fogo, o mundo terá acabado.
Um juramento a manter com um alento final,
E inimigos com armas às Portas da Morte afinal.

Para quem não esperava encontrar alguém tão engraçado e carismático quanto Percy, aqui podemos ver três personagens que dividem a cena: Jason, a coragem e a força; Piper, a beleza e a persuasão; e Leo, o humor e o cérebro. Revezando-se durante todo o livro em seus pontos de vistas, ao final da última página sentimos um leve desconforto por abandoná-los, pois são personagens extremamente distintos entre si, mas que se completam e que deixam saudades. Além deles, antigos personagens, como Annabeth, Thalia e Quíron, marcam presença, e outros como Festus e o Treinador Hedge, chegam para completar a turma.

O número de personagens das antigas lendas gregas é vasto, mas um dia estes seres mitológicos iria se esgotar, pois não há quantidade suficiente que suporte uma série inteira de livros sem repeti-los. Mas Riordan, mesmo depois de abranger deuses, monstros, heróis, seres e espíritos da natureza, dentre vários outros, ainda consegue se superar. Embora os personagens mais famosos da mitologia grega tenham aparecido durante as aventuras de Percy, desta vez quem ganha a cena são alguns não tão conhecidos, como os deusos do vento, além de importantes mortais da antiguidade que há muito estavam mortos, mas agora voltaram, como Rei Midas e Medeia, trazendo as melhores cenas de todo o livro. E para melhorar ainda mais, podemos ver outro lado dos deuses. Seus lados romanos são mais abordados, e se deuses gregos e romanos pareciam ser semelhantes no início, no fim as diferenças são incontáveis. Velhos deuses, que ainda não haviam aparecido muito, ganham seu espaço, como Hera e Afrodite.

Enfim, "O Herói Perdido" não erra em momento algum. A linha de Percy Jackson é mantida, isso não há dúvida, mas tudo é tão bem narrado e cheio e ação que não há como não gostar. A aparição de três personagens principais fez com que o livro ficasse mais do que fascinante, apresentando também mistério, detalhes inúmeros e um pouco de complexidade, pois são três histórias para serem contadas. Jason e sua falta de memória, Piper e seus sonhos sinistros, e Leo e sua Tía Callida, garantiram um enredo imensamente sedutor e difícil de largar. Mais uma grande série de Rick Riordan, que começa de maneira formidável e parece contar com ainda mais batalhas, lutas e monstros de peso pela frente. Que venha os próximos volumes, com todas as tristezas e saudades que irão deixar!