A principal proposta firmada por mim neste blog é a de levar obras pelas quais me interesso e que acho dignas de serem mostradas a quem passa por aqui. Mas levar filmes e livros às pessoas nem sempre é fácil como aparenta ser. Ao falar muito de determinado livro, posso estar pecando por falar demais, ou contar a história de um filme pode estraga-lo para quem vai assistir depois. Para escrever críticas e resenhas é preciso saber dosar o que se fala, mas a verdade é que coisas boas devem ser mostradas para serem apreciadas.

Encontrei A Pérola, de John Steinbeck, sem saber nada a respeito do livro, de sua história e pouco conhecendo sobre o autor. O que mais me interessou foi descobrir que Steinbeck escreveu também O Curto Reinado de Pepino IV, um livro que li anos atrás, de uma simplicidade tão encantadora que eu precisava tentar desvendar A Pérola para descobrir o que o livro continha em suas páginas amareladas. Em meio ao desconhecido, a história se desenrolou em minha frente sem nenhuma expectativa para ser saciada, e muito menos sem ilusões para serem desfeitas. Foi uma surpresa incrível.

Eu poderia dizer muita coisa, mas o livro é pequeno demais para ser estragado com sinopses prévias. Posso dizer que o livro é sobre um homem pobre, Kino, vivendo em sua cabana de paus com sua mulher, Juana, e seu filho bebê, Coyotito. Um livro sobre canções que ecoam dentro das pessoas, que na maior parte pouco são percebidas, mas que Kino as enumera e as sente dentro de seu ser. São canções da família, quando estar perto das pessoas que se ama é o mais importante; canções da vida, dessa vida cotidiana tão sem sentido, mas que as pessoas vivem e dançam a seu sabor; e uma canção sobre uma pérola, a maior pérola jamais vista naquele lugar. E no momento em que Kino encontra a pérola, ele se torna rico em sonhos, e os desejos explodem dentro de si. Mas ter sonhos, e o simples fato de ter algo, não é algo bem visto em meio à pobreza. E o homem pobre percebe que o mundo em que sempre viveu se transforma para sempre quando a grande pérola é encontrada.

A Pérola é um livro que aparenta ser pequeno e simples, mas que esconde uma complexidade tão ferrenha que encanta da primeira até a última página durante a leitura. Por trás de páginas escassas e uma história aparentemente banal, apresenta uma realidade absurda, em que a sociedade é esmiuçada pouco a pouco como nenhum autor atual consegue fazer. As injustiças, a crueldade, a riqueza de poucos e a pobreza de muitos, são retratadas fielmente nesta obra da década de 40, mas que é algo tão comum na atualidade. Uma história que aconteceu no passado, que acontece hoje em dia e que continuará a perdurar enquanto o mundo for mundo.

É um livro de coisas não ditas, cheio de silêncios. Kino e Juana pouco se falam, levantam com o sol e o simples olhar já é o suficiente para se entenderem durante todo o dia. Não é assim o amor? Quando as pessoas se amam, elas não precisam dizer nada. Elas estão perto demais, seus corações se encontram tão próximos que não precisam proferir palavras, pois o silêncio basta. No silêncio ecoam palavras suficientes para os corações que se encontram ligados.

A grande pérola exorta o melhor e o pior que existe dentro das pessoas. As pérolas são os sonhos, o que de melhor existe na humanidade. São os sonhos criados, os sonhos desfeitos, os sonhos acalentados durante anos, às vezes impossíveis, mas que são reais a partir do momento em que são concebidos na mente. Mas a pérola também desperta a inveja, a cobiça e a maldade. A pérola mostra a humanidade em sua forma mais brutal.

A escolha de palavras de Steinbeck é fascinante, e o autor apresenta uma história de cadência própria. Soa quase como uma música, uma canção solta pelo vento. São personagens reais, em uma história cruel, mas de encanto surpreendente. É um linguagem simples, mas ao mesmo tempo cheia de segredos, em que no momento em que tudo que está escrito é percebido e digerido, os leitores buscam por mais, mais significados em meio ás palavras íntimas e ao sigilo profundo.

John Steinbeck, além de A Pérola e O Curto Reinado de Pepino IV, é autor de outras obras de fama mundial, como Ratos e Homens e As Vinhas da Ira, ganhador do Prêmio Pulitzer de Literatura. O autor também ganhou o prêmio Nobel de Literatura em 1962. Um escritor imortal que merece ser lido e apreciado, pois cada palavra de sua autoria é um fascínio a parte. Um autor de palavras que encantam do início ao fim.