A quem interessar,

Peço desculpas por não dizer a verdade. Não menti, apenas escondi. Não fingi, apenas desejei mais do que devia. Diz o ditado que mais vale um pássaro na mão do que dois voando. Talvez eu queira dois pássaros, por gostar do canto doce de um, e da melodia sincera do outro. Mas pássaros possuem asas e podem voar para onde quiserem. Talvez  não queira nenhum pássaro, e a gaiola deva continuar suja, vazia e solitária como sempre foi.


Peço desculpas pelo medo que corrói a alma e impede que os pés sigam a direção desejada. E qual seria essa direção? Aquela prometida aos domingos para ser encontrada nas segundas, e que nunca passa de uma utopia enganosa. Aquela que só de imaginar já leva à felicidade, capaz de erguer sonhos mesmo quando se está acordado. Aquela direção que sempre é prometida, mas nunca é cumprida.

Peço desculpas pela inaptidão constante, pela confusão sem medida, pelo desnorteio sem sentido. Não valem estudos, preparos, rezas, mandingas. As pessoas são o que elas são, atrapalhadas até o fim dos tempos e sem conseguir fazer a coisas certa.

Peço desculpas pela confiança oferecida, sempre frustrada no decorrer da convivência. A fraqueza da alma é grande demais para suportar tamanho regalo, e com o tempo acaba fugindo e deixando a responsabilidade o mais longe possível. O que dizer, o que fazer? Não saberia. Afinal, são 20 anos decepcionando as pessoas.

Peço desculpas pela vergonha sem fim. Os olhos no chão, a fala baixa, o suor frio, o nervosismo a cada esquina. Não é fácil, não mesmo, mas como vencer algo maior do que nós mesmos?

Peço desculpas pelo silêncio. Esse silêncio que é tão pesado, tão concreto, que preenche o tempo e o espaço. Corrói as amizades, consome as alegrias, destrói os desejos. O silêncio que funciona como um buraco negro, sugando tudo o que se aproxima e não deixando nada de si mesmo ir além

Peço desculpas por essa falta de palavras infinita.

Com carinho
M.