Existem aqueles momentos na vida em que você para e fica olhando pra trás, tudo o que você passou na vida e tudo pelo qual está passando. Posso parecer um velho falando, mas com a alma centenária que possuo, é algo um tanto normal em meus dias. Há pouco tempo lá estava eu imerso em melancolia e nostalgia, lembrando de meus amigos da internet. Essas pessoas simultaneamente amigas e desconhecidas, que tanto alegram meus dias, mas que também tanta tristeza deixam. As pessoas possuem suas próprias vidas, e elas sempre tendem a desaparecer. Mas é como diz o ditado: recordar é viver.

Tudo começou com o Skoob, a rede social para leitores que hoje, mais de seis anos depois de ter entrado pela primeira vez, é impossível pensar minha vida sem a sua existência. Uma rede social em que é possível criar sua própria estante virtual de livros, escrever resenhas, criar grupos e principalmente, conhecer pessoas com a mesma paixão pela leitura.



Com poucas semanas de uso, fiz minha primeira amizade, que veio comentar sobre um livro que eu havia detestado e feito uma resenha cheia de críticas. Conversa vai, conversa vem, fui conhecendo a paleontóloga do Rio Grande do Sul, que no futuro acabaria se tornando escritora e professora universitária. Foram muitas trocas de mensagens sobre livros, filmes, jogos, Plantas Vs. Zumbis, Farm Ville, cachorros e viagens. Posso dizer que a troca de mensagens se tornou um tanto rara no desenrolar dos anos, mas ainda assim é uma amizade que sempre terei grande consideração. A primeira amizade não dá pra esquecer.

Uma amiga de Campinas veio a me surpreender pouco tempo depois. Aparentando ter a minha idade, a garota foi a primeira com quem passei a conversar horas no finado MSN, e foi quem me deu grande força para que criasse esse blog. Inclusive, me ajudou a escolher o nome "Pensador Livre". Até o dia em que a garota some para nunca mais voltar. Quem me aparece é a mãe, cheia de medos, lamentações e tristezas, confessar que estava se passando pela filha para encontrar amizades virtuais, por se sentir fora de seu lugar na internet por ser mais velha. Quem sou eu para julgar? O importante é a mulher com coração jovem ter a coragem de falar a verdade. A vejo pouco atualmente, mas são boas lembranças.

Logo chega uma fascinante garota do interior de São Paulo, a primeira com quem troquei cartas e livros de presente, que sempre lia meus posts neste blog, que fez até mesmo uma homenagem de aniversário para mim em seu blog. Aquela que até mesmo ligou, em uma conversa que ficamos por mais de meia hora falando trivialidades, rindo de nossos sotaques e felizes demais por ouvir a voz um do outro. A garota começou a fazer faculdade, trabalhar, namorar, e nunca mais apareceu.

Duas amizades das mais importantes foram as que encontrei na pequena Ilha de Paquetá, no Rio de Janeiro. Mãe e filha saídas de histórias de livros, impossíveis de acreditar que existem em carne e osso por se apresentarem como as amizades que sempre quis ter por perto, mas nunca pude ter. Foram dezenas de recados no Skoob, Orkut, Facebook, horas em madrugadas no MSN, mensagens no celular, até chegar aos correios com pilhas de cartas, livros, cadernos, filmes, colagens. Como as duas sempre viajavam com a família pelo mundo a fora, eu era apresentado ao mundo através das lembranças que mandavam. Em meio à palavras de apoio, conselhos, trocas de experiência, gostos e sonhos em comum, é triste dizer que as conversas foram diminuindo com o tempo, até sumir. Mas o carinho fica, sempre fica, e a esperança de um recomeço está sempre aqui.

Mas nem todos somem. Há a garota do interior de São Paulo, em uma cidade que pouco seria notada se ela não existisse. Acordar e dormir já não são os mesmos sem um bom dia e um boa noite seus. São conversas que saíram do Skoob, Orkut e Facebook, emails bestas só pra perguntar como vai a vida, para se tornarem constantes no Whatsapp, no dia a dia. Alguém com quem confiar, para dizer que a vida é bela, que ri quando sou pamonha, que me anima quando os dias são difíceis, alguém para ser louco em conjunto e ter um zoológico imaginário. Estão aí boas características: um coração gigante e aquela velha loucura que todos nós temos guardada por dentro.

Estas são algumas das amizades que fiz no Skoob ao longo dos anos. Gostaria de falar de todas, pois cada um é importante à sua maneira, mas isso seria quase impossível. Ainda assim, preciso citar a garota que não apenas é brilhante em seu curso de Medicina, mas uma atleta excepcional (ainda quero vê-la nas Olimpíadas); a garota de São Paulo que sempre indica boa música e que já combinamos de, um dia, abrir nosso local dos sonhos: um misto de livraria, café e boa música; aquele moço tão maneiro de conversar e quem me ajudou a fazer minha primeira compra de livros no site Estante Virtual; aquele jovem de Salvador que tanto curte Caetano Veloso; a jovem de Paranaguá que me encanta com suas mensagens no celular; o jovem carinha de Belém; a garota paranaense que me impressiona pelo gosto apurado e por ser tão fã de rock, que admiro mesmo longe por ser independente e ter um estilo próprio que pouca gente consegue ter na vida.

Existem também aqueles que, mesmo com a distância grande, o tempo curto e as conversas acontecendo apenas poucas vezes no ano, a amizade continua e é sempre a mesma. É o caso do jovem de Divinópolis que, no passado, um dia sem conversar com ele não era a mesma coisa, e com quem tanto aprendi sobre livros e filmes; a garota maluca do Paraná que ama teatro, e que ainda hei de conhecer; uma baiana que encantou e muito meus sábados passados; uma mãe de Natal que ensina o gosto pelos livros ao filho; uma médica paulista tão carinhosa, e tão amante das leituras, que também já imagino o mundo fantástico em que os filhos estão crescendo; a jovem de Salvador com quem é tão bom trocar recados gigantes; uma matemática paulista que tem um gosto tão parecido com o meu que assistir determinados filmes e séries não é a mesma coisa sem comentar com ela; a juíza do Mato Grosso do Sul com quem é tão legal conversar e discutir sobre a revista Mundo Estranho; e ainda há os parentes distantes: a maninha do Mato Grosso com quem é tão fácil desabafar, e o primo carioca que já é da família, de tanto que somos parecidos. Um dia ainda nos encontramos.

E não dá pra esquecer a garota que é muito jovem, mas parece gente grande, com quem tive o prazer de me encontrar e ir ao cinema. O cara com quem esbarrei em uma bienal do livro e foi uma surpresa fantástica, e essa sua amiga que está mais perto do que todos os outros, pisa nos mesmos lugares que eu, e com quem hei de sair e dar boas risadas algum dia, junto a um café e um bom livro.

E tantos, tantos outros com quem tive o prazer de conversar, conhecer, que fizeram parte da minha vida. De todas as idades, casados ou solteiros, de todos os cantos do Brasil. São aqueles que me fazem felizes, por me possibilitar a consciência de que pessoas como eu existem sim, só estão longe demais. Seria bom se estivessem mais perto. Seria bom se não tendessem sempre a desaparecer.