Todo leitor árduo possui um escritor debaixo da manga que faz o papel de porto seguro nos melhores e piores momentos. Seja para distrair, matar a saudade, curar uma ressaca literária ou para passar o tempo, são autores com vários livros lançados e na maioria seguindo uma mesma fórmula em suas histórias. Muitos gostam de Sidney Sheldon, outros de Graham Greene ou John Grisham. Já o meu porto seguro sempre foi, e sempre será, Agatha Christie.

A autora, considerada pelo mundo como "A Rainha do Crime", lançou mais de 80 livros em sua longa carreira, com histórias que nunca me cansam ou decepcionam. Suas obras possuem bons personagens, uma história cativante e envolvente, e um final que sempre surpreende. O ponto alto são as características próprias que cada livro possui. Seja um personagem singular, um cenário incomum ou uma reviravolta em especial, cada obra possui um determinado detalhe que torna os enredos únicos e diferentes de todos os outros. 
 
Como todo escritor com tantos livros lançados, Agatha Christie tem seus altos e baixos. Não que seus livros desapontem os leitores, mas enquanto alguns são muito simples e rápidos, outros são complexos, eletrizantes e geniais. É o caso dos meus favoritos: O Caso dos Dez Negrinhos, Assassinato no Expresso do Oriente e A Casa Torta. Livros que me surpreenderam e me encantaram do início ao fim, e fizeram com que eu me apaixonasse pela mente brilhante de Agatha Christie.

Um Passe de Mágica, lançado em 1952, não chega a ser um dos melhores livros da autora. No entanto, com tantos meses longe de suas histórias, aproveitei a leitura o máximo possível e me encantei como sempre. É uma obra dentro dos moldes e em meio a uma fórmula fixa, separada basicamente em introdução dos personagens, crime, depoimento dos suspeitos e o desfecho da história, com a descoberta do assassino.

O livro nos leva à detetive Miss Marple visitando a irmã de uma velha amiga de infância. Sem saber exatamente o motivo, a amiga sente algo estranho acontecendo na casa da irmã, Carrie Louise, e convence a velha senhora à visitar a casa da família. Quando Miss Marple chega ao local, encontra um cenário repleto de personagens estranhos. A casa foi transformada em um centro de reabilitação para jovens criminosos, e seus habitantes são totalmente despreocupados com qualquer tipo de problemas.

No momento em que as suspeitas se tornam concretas e é cometido um assassinato, o destino está traçado. Quem será o criminoso? Será Wally Hudd, marido estrangeiro da neta de Carrie Louise, e que parece tanto detestar o lugar? Jullie Bellever, governanta da casa e com um sentido extremamente protetor e autoritário com Carrie Louise? Ou seria Edgar Lawson, um garoto problemático e aparentemente violento? Como todos os bons livros da escritora, todos são suspeitos até o último segundo.

Um Passe de Mágica nos traz Miss Marple em sua quinta aventura, e este é o primeiro livro com a personagem que leio. Sem nenhum motivo aparente, sempre havia esbarrado apenas com as histórias do detetive Hercule Poirot. Posso dizer, com toda a certeza, que me encantei com a inteligência, a serenidade e, sobretudo, com a aparente inocência de Miss Marple, e pretendo conhecer outras histórias em que ela é a protagonista em breve.

Dizer que quero ler todos os livros da autora talvez seja por demais pretensioso, mas a vontade fica e vou tentando atingir a meta no desenrolar dos anos. A certeza é que cada livro de Agatha Christie sempre me acrescenta em algo, além de todas as vezes me impressionar e, principalmente, ser o porto seguro a que recorro sempre que preciso.