A guerra entre Israel e Palestina se prolonga por inúmeras gerações no território árabe. Uma história de conflitos e numerosas lutas, protagonizada por um povo que procura reaver o seu verdadeiro território, mas que encontra obstáculos pela reivindicação de terras por uma nação de costumes distintos, mas desejos semelhantes. Em meio a um cenário tão áspero e controverso, o filme Lemon Tree, dirigido pelo cineasta israelense Eran Riklis, se expõem, apresentando uma visão simples, sincera e de grande singularidade, diferenciando-se dos costumeiros e triviais roteiros hollywoodianos.

Durante o filme, a incumbência do diretor não é apresentar um lado próprio na eterna luta entre judeus e árabes. Não são expostas cenas de violência, como seria típico em um filme da mesma temática, ou grandes questionamentos a respeito das atrocidades da guerra, que levou à morte inúmeros indivíduos durante o desenrolar dos séculos. O que é manifestado é a diferença de dois lados aparentemente distintos, mas que possuem diversas semelhanças entre si, como a busca pela paz e pela felicidade, em um mundo sem disputas constantes. Um mundo em que as nações possam ter sua própria fé e sua própria crença, sem sofrer discriminações.

Lemon Tree exibe a história de Salma Zidane (interpretada pela excelente atriz Hiam Abbas), uma viúva de meia idade, que vive em meio a sua plantação de limões, cujo cuidado garantiu o sustento da família por mais de 50 anos. No momento em que Israel Navon, o Ministro da Defesa de Israel (interpretado por Doron Tavary), muda-se para a casa ao lado de Salma, surge o impasse: os limoeiros devem ser cortados para evitar um possível ataque terrorista contra o Ministro. No entanto, Salma não aceita silenciosa tal exigência, e parte para uma batalha judicial para que seja garantido o direito de seus limoeiros continuarem a existir.

Em meio à contenda de interesses entre Salma e o governo de Israel, está Mira Navon (Rona Lipaz-Michael), a mulher do Ministro. Poucas palavras são proferidas entre Salma e Mira, mas a troca de olhares entre as duas mulheres, em cenas que despontam durante todo o filme, se apresentam como as mais significativas da obra. De um lado da cerca está Salma, a mulher árabe em resistência, acostumada ao sofrimento e vivendo um impasse em sua religião e em suas raízes. Do outro lado está Mira, judia de família abastada, culta, que percebe o drama que a cerca e se sente culpada, mas pouco pode fazer a respeito. Duas mulheres de personalidade forte, acostumadas a seus próprios mundos e a vivenciar suas próprias misérias, seja em meio a limoeiros ou em uma residência de luxo.

Lemon Tree apresenta um enredo muito além de limões e limoeiros. Os personagens são esmiuçados de modo intenso, especialmente Salma, mantendo-se ávida por mudanças, mas ligada profundamente às suas crenças. Sua luta para salvar seus limoeiros, sua atitude de coragem e bravura, é um grito para ser notada. Em um cenário reinado pelo desrespeito cultural e racial, a conclusão é que não existem vencedores, mas apenas perdedores em uma luta sem fim. Mais do que simples limões, a fruta ácida traz o simbolismo claro da situação de israelenses e palestinos, vivendo suas vidas amargas, duras, ameaçadas constantemente. Porém, assim como os limões de Salma, é possível fazer uma limonada em que todos concordem pela qualidade. Basta apenas perceber a humanidade em cada indivíduo, vivendo seus próprios problemas, mas unidos pelo amor, pela amizade e pela solidariedade.