Há mais de dois meses atrás eu fazia aniversário, e com ele veio um relato completo do meu dia, logo esquecido nas semanas seguintes. Para não desperdiçar tudo o que escrevi, posto mesmo com um atraso enorme.

Aniversários são complicados. No dia sete de outubro completei 21 anos, e posso dizer que mesmo quase um quarto de século já ser o suficiente para tratar a data como um dia qualquer, ainda assim continuo a aprender e a me surpreender com ela. As vontades de aproveitar o dia o máximo possível e a de sumir completamente brigavam e se engalfinhavam dentro de mim há vários anos, mas em 2015 finalmente posso dizer que experimentei um desses lados de forma verdadeira, o que contribuiu para algumas lições valiosas.

No quesito aniversário, existem dois grupos de pessoas. No primeiro estão as que gostam de comemorar a data pela reunião com os amigos, os presentes ganhados, sair para lugares especiais. Viajar e fazer algo diferente também são fatos presentes na lista, ou até mesmo a chegada de um novo ano de vida e a maturidade que vem com ele. Quem é criança sabe bem o quanto é terrível esperar até o dia de aniversário, contar no calendário até você fazer 10 anos para poder sentar na frente do carro com seus pais, fazer 15 para começar a ir em festas, 18 para poder tirar carteira de motorista, e por aí vai. Nunca ansiei por esses aniversários, sempre me senti totalmente satisfeito com minha idade e sempre tive medo de crescer. Síndrome de Peter Pan? Talvez.

Eu tinha uma tia que certa vez comentou que se chegasse aos 100 anos, sem dúvida iria se suicidar porque não aguentaria viver por tanto tempo. 100 anos é tempo demais. Com essa fala cito o grupo dos que não gostam de aniversários, que acham que a data não é um ano a mais de vida, e sim, um ano a menos, uma vez que você estará se aproximando mais da morte. Essas pessoas geralmente não contam o aniversário para ninguém, vivem o dia como se fosse um outro qualquer, não fazendo nada de diferente. O que pensar, o que dizer? (Só para constar, minha tia não chegou aos 100, felizmente para ela).

Quando eu era criança, sempre gostei dos meus aniversários. Sempre. Não porque eu queria crescer, por estar ficando mais velho ou pela possibilidade de fazer diversas coisas que só a vida adulta proporcionaria. Mas ficava feliz com a data pois adorava a casa cheia de gente, de pessoas que se importavam comigo, de amigos e familiares que estavam ali só para me ver. Adorava principalmente os presentes, aquela quantidade enorme de brinquedos que você passava semanas e semanas para desvendar e descobrir como se brincava. Os enfeites, os balões, brincar com meus amigos. E no fim, aquela sensação de alegria pelo dia ter terminado e ter sido tudo tão bacana (não vamos esquecer dos salgado, que eram comidos no café da manhã no dia seguinte, pois salgado frio é sempre mais gostoso).

O tempo passa, nós crescemos, e tudo vai ficando sem graça, sem brilho. Os presentes vão diminuindo, as pessoas se ausentam, surgem apenas ligações ou mensagens. Você se torna tímido demais e passa a não gostar de receber parabéns. A pessoa te deseja parabéns, muitos anos de vida, felicidade, saúde, etc, e o que você pode dizer? "Obrigado, muito obrigado, obrigado", nada mais. Até mesmo no momento do canto de parabéns você fica sem graça, porque existe coisa mais vergonhosa do que ficar em frente ao bolo e ser o centro das atenções? Todas as pessoas batem palmas, mas você não sabe se bate palma ou não, daí fica com as mãos caídas ao lado do corpo, inúteis. E isso só pra citar algumas coisas.

Já faz alguns anos que eu desejo fugir do meu aniversário. Pegar o primeiro ônibus para o primeiro lugar que aparecer, fugir para algum lugar qualquer, desligar o celular e não escutar nada e nem ninguém. Curtir o aniversário do jeito que eu gosto: sem parabéns, sem me sentir mal, sem falação. Aí é que eu estava enganado.

O que eu fui perceber esse ano é que não importa: um aniversário será especial de acordo com as pessoas que você estiver junto. Você pode estar na Torre Eiffel, pulando de paraquedas ou escalando o Everest para comemorar a data. O importante é se você está sozinho ou não. Você pode estar no grupo dos que acham que o aniversário é um ano a mais, ou dos que acham que é um ano a menos. Não importa, cada um tem uma opinião. O fato é que seu aniversário vai depender de quem estiver junto com você.

Um breve relato do aniversário de Mateus Calazans de 21 anos, em 2015, parte ruim: não contei para ninguém que era meu aniversário no meu trabalho, e passei todo o horário de serviço totalmente em liso. Se as pessoas soubessem, eu estaria naquela aura "aniversariante", e como não adorar este fato? Fui embora, peguei o ônibus e fui em um shopping no meio do caminho. Almocei sozinho, fui para o cinema sozinho. O filme era bom, mas não havia ninguém para comentar sobre ele. Perdi várias ligações por estar no cinema, várias mensagens por ter desligado a internet, e me senti muito mal por isso.

Parte boa: Depois do shopping, fui direto para a faculdade. Chegar e escutar o parabéns das pessoas que gosto não tem preço. Ligar a internet e ver uma porrada de mensagens das pessoas falando que você é especial, que gostam de você. E o melhor: ir para o bar com as pessoas que você quer, com quem você se sente especial. Você percebe que faz parte de algo, que quer ter dezenas e dezenas de outros aniversários pela frente para estar junto com essas pessoas. Simples assim.

O melhor é que um aniversário não é apenas no dia. Pelo menos, não quando você está fazendo 21 anos. O aniversário começa no primeiro dia da semana, quando uma de suas melhores amigas também faz aniversário, e você vai até o bar com ela para comemorar. No dia seguinte, é o aniversário de outro amigo, e lá vai você em um grupo onde se sente bem. Um grupo novo, que você quer ter contato para sempre. E no terceiro dia é o seu aniversário e vem tudo o que eu já disse. Na quinta você dá um descanso, porque ninguém é de ferro. Na sexta, o grupo cresce e todos vão jogar sinuca, beber e ser feliz. Porque felicidade é a palavra certa, e se sentir parte de algo é a frase perfeita. E no sábado você vai à pizzaria com aquele amigo que não gosta de beber e preferiu não estar nas outras comemorações devido à bebida, mas que quis comemorar de algum jeito com você.

E então você percebe, em todos esses dias, em todas essas comemorações, no meio de cervejas, sorrisos, conversas e tudo mais, que um aniversário não depende apenas de você, mas de quem está por perto. Porque fazer aniversário todos fazem, isso não há escolha. Mas cabe a você comemorar da sua maneira e se sentir especial, e você só vai se sentir especial com as pessoas que estiver a sua volta. Não adianta fugir. Ou melhor, fugir só piora tudo.

E o que quero dizer com todo esse monólogo monótono e sem sentido, é que o Mateus Calazans, ao fazer 21 anos, foi um dos mais felizes dos últimos tempos. Talvez os 21 seja a última data que você comemora, porque depois disso, é só idade ruim. Como diz minha mãe, quando passa os 20, daqui a pouco você chega aos 30, aos 40, e aí você começa a descer a ladeira. Eu não sei onde estarei daqui há 10 anos, quem dirá em 20. O que sei é quero fazer meus aniversários os melhores possíveis, e ter as pessoas que gosto por perto. Porque é isso que me faz sentir especial. Sempre.