Há exatos 50 anos, um dos maiores cineastas de Hollywood lançava seu primeiro trabalho como diretor de cinema. "O que Há, Tigresa?", de 1966, foi a estreia de Woody Allen na direção de obras cinematográficas, descortinando ao mundo a genialidade que iria marcar seus filmes nos anos posteriores. Aclamado principalmente por suas inúmeras facetas, o diretor, ator e roteirista foi considerado mestre na segunda metade do século passado e continua a fascinar público e crítica na atualidade com seus roteiros criativos e bem construídos. "Noivo Neurótico, Noiva Nervosa" (1977), "Manhattan" (1979) e "Hannah e suas Irmãs" (1986), estão entre os seus filmes de maior sucesso, que fizeram com que Allen fosse indicado 23 vezes ao Oscar e levasse quatro estatuetas para casa.

Reservado, gênio, dotado de um humor peculiar e considerado estranho por muitos, Woody Allen possui uma carreira de escritor pouco conhecida, embora seja aclamado por leitores alternativos em todo o mundo. Com mais de dez livros lançados, é notável seu trabalho em meio à literatura, que carrega seu estilo característico e o modo neurótico que apenas Allen possui.

Entre suas obras está "Sem Plumas", de 1975, que reúne uma série de textos, ensaios e peças de teatro do cineasta, que abusam do absurdo e carregam um tom satírico irresistível. São textos que passam por temas como religião, fenômenos psíquicos, filosofia, relacionamentos e simples fatos do cotidiano, que prendem a atenção do leitor e revelam o que de melhor há em Woody Allen: o humor, as críticas à sociedade e a inteligência irreverente.

O título da obra faz referência à uma frase da poetisa norte-americana Emily Dickinson, que diz: "A esperança é a coisa com plumas...". No primeiro texto do livro, "Excertos de Um Diário", onde o autor se propõe a apresentar trechos de seu diário secreto que deveriam ser publicados "postumamente ou depois de sua morte - o que vier primeiro", o autor deixa claro:
Emily Dickinson enganou-se redondamente. A esperança não é "a coisa com plumas". A coisa com plumas é meu sobrinho. Preciso leva-lo a um especialista em Zurique".
Com o trecho já é possível perceber o tom surreal e absurdo presenta em todo o livro. Woody Allen brinca com as palavras, dá voltas e as usa em seu favor para criar histórias sobre as mais variadas situações, com uma proposta mais do que certa de divertir o leitor e encantar com seus pensamentos rápidos e seu raciocínio frenético.

Entre todos os textos de "Sem Plumas", não poderia deixar de destacar as peças de teatro presentes no livro. A primeira, "Morte", traz a história de um homem que sai com amigos a noite a procura de um tarado estrangulador, sem ter a mínima ideia de qual é o plano para pega-lo. O homem percorre as ruas escuras, encontrando os mais diversos personagens, com um medo e uma desorientação visíveis, em uma divertida caricatura de histórias de terror e suspense.

A segunda peça, "Deus", traz como principal elemento a metalinguagem, item utilizado em um dos mais famosos filmes do diretor, "A Rosa Púrpura do Cairo" (1985). Em "Deus", um escritor e um ator gregos conversam entre si, interagindo também com toda a plateia e a equipe de produção da peça, em cenas divertidas e hilariantes que discutem a existência ou não de Deus, o papel de cada pessoa em uma peça, e uma série de questões filosóficas sobre a própria existência

Livro certo para todos aqueles que gostam de Woody Allen, "Sem Plumas" reúne o que há de melhor na loucura do cineasta, levando toda a inteligência dos filmes em um único livro. Muito além da imaginação, são histórias que permeiam o mundo de cada um de nós, evidenciando o absurdo e o surrealismo da vida cotidiana.