Quando ouvi falar do filme "As Melhores Coisas do Mundo" pela primeira vez, logo me veio à mente uma história tola e mal formulada, tipicamente adolescente e com toques de roteiros de novelas como Malhação. Por mais que eu tente, é impossível não formar opiniões precipitadas de filmes antes mesmo de assisti-los. Quando olho para algum, já o classifico como bom ou ruim. De vez em quando, porém, fico feliz por criar essas opiniões precipitadas. Sabe porquê? Muitas vezes, os filmes que eu pensara serem ruins se mostraram ótimos e incrivelmente bons, tornando-se para mim uma grande surpresa. Pois foi exatamente isso o que aconteceu com "As Melhores Coisas do Mundo", que acabou me surpreendendo mais do que nunca.

É frustrante, para nós brasileiros, percebermos que nosso cinema nacional se interessa apenas por temas como tráfico de drogas, miséria, criminosos e assuntos relacionados. Todos os grandes filmes de sucesso nos últimos anos, como "Tropa de Elite", "Carandiru", "Cidade de Deus", dentre vários outros, apenas abordam exatamente esses temas. Tudo bem que são temáticas importantes no nosso país, mas já estamos cheios disso, certo? Inovação e originalidade são tudo o que o cinema brasileiro precisa, e por sorte, de vez em quando surgem alguns assim, como este que vos indico.

"As Melhores Coisas do Mundo" conta a história de Mano, um garoto de 15 anos igual a todos de sua idade. Gosta de sair com os amigos, ir a festas, beijar, tocar violão, andar de bicicleta, dentre diversas outras coisas. A vida para ele nada mais é do que uma grande curtição. Quando seus pais se separam, porém, tudo parece começar a dar errado. Ele percebe que a vida não é tão fácil, mas sim, um grande paradoxo onde devemos fazer escolhas e tomar decisões difíceis o tempo todo. A primeira transa, a descoberta do amor, o preconceito, a insegurança, a busca por popularidade, a vontade de ser aceito. São fatos que começam a fazer parte de sua vida, fatos normais que todos precisam presenciar durante a vida.

O triunfo do filme, sem qualquer dúvida, é sua capacidade de fazer com que os jovens que assistam se vejam e se sintam presentes em todos os acontecimentos da vida de Mano. O personagem poderia ser eu, você, ou qualquer um. Não existe nenhum acontecimento mostrado que seja totalmente irreal ou que ninguém jamais tenha visto. A garota estranha que sofre ao ser chamada de lésbica; a menina que vê suas fotos sem roupa circulando nos celulares da escola; o garoto que sofre pela opção sexual do pai; o sofrimento e até o suicídio de quem sofre por amor. Pelo menos uma dessas coisas já aconteceu em sua escola, tenho certeza disso, pois são situações assim, que podem acontecer com qualquer um, que são abordadas no filme.

De direção de Laís Bodanzky ("O Bicho de Sete Cabeças", "Chega de Saudades"), "As Melhores Coisas do Mundo" foi inspirado na série de livros "Mano", escrita por Gilberto Dimenstein e Heloisa Prieto. Atores consagrados, como Denise Fraga, Caio Blat e Zé Carlos Machado participam do longa, mas ele conta também com atores que não possuíam nenhuma experiência, como Francisco Miguez, que interpreta Mano, Amanda Carvalhosa, Gabriel Illanes e o aspirante a cantor Fiuk. O uso de atores inexperientes foi exatamente o que garantiu a grande realidade do filme, pois tal inexperiência possibilitou uma abordagem ainda mais próxima da realidade.

Enfim, "As Melhores Coisas do Mundo" é um filme que vale mesmo a pena ser assistido. Para os adultos e quem passou da adolescência, pode até não ser lá grande coisa. Mas para nós, que estamos vivendo essa fase tão difícil, será algo para entrarmos de cabeça e nos sentirmos verdadeiramente dentro da história. É ver para crer.