A Cidade Onde Envelheço

Duas mulheres, às margens de um lago de águas claras, discutem a saudade de casa e os desejos que queimam o peito como brasa em fogo. Naturais de Lisboa, elas vivem em Belo Horizonte, Minas Gerais, e se perguntam do que mais sentem falta. “Do mar”, diz uma delas. Entrar no mar quando quiser; deixar o sal cobrir o corpo; lamber os braços e sentir o gosto puro do sal; experimentar o sal por toda a carne. Entre as inúmeras preciosidades deixadas para trás, elas escolhem o mar: a imensidão, a exorbitância, o ritmo raivoso. Você entra nas águas e elas continuam em você. É como o lar, que não abandona os corações jamais.


A brutalidade de "El Método"

Entrevistas de emprego e dinâmicas em grupo são sinônimo de nervosismo e preocupação para a maior parte das pessoas. No entanto, existem métodos desconhecidos e até mesmo mais exigentes do que os habituais, que seriam motivo de preocupação ainda maior se fossem utilizados frequentemente. Um desses procedimentos é o método Grönholm.

O método consiste em um processo de seleção de candidatos, geralmente para cargos elevados, em que os participantes são submetidos a inúmeras provas e tarefas, marcadas pela intensidade em nível psicológico e emocional. Sozinhos em uma sala, os candidatos precisam interagir entre si e trocar experiências, assim como revelar habilidades e conhecimentos, enquanto são observados às escondidas pelos futuros empregadores. Além disso, os próprios candidatos são responsáveis por se eliminar, o que incentiva a competitividade e a agressividade. No fim do processo, resta apenas a pessoa mais qualifica para o trabalho, ou o candidato mais forte.

A humanidade de Mistress America

inserção de meu mundo nas obras do diretor Noah Baumbach começou por acaso, a partir de Frances Ha, lançado em 2012. Sem querer declarar muito sobre o filme, para não me estender demais, posso dizer que Frances Ha chamou a atenção pela mistura do simples e do complexo, pela exposição do mundo em preto e branco que todos possuem dentro de si, e pelo grito que ecoa dos que se sentem perdidos e sem saber o que fazer. Ainda preciso ver muitos filmes do diretor, mas sigo assistindo seus lançamentos e resgatando as histórias antigas para criar um cenário completo de sua obra em minha mente.

Lemon Tree: limoeiros em um cenário de conflito

A guerra entre Israel e Palestina se prolonga por inúmeras gerações no território árabe. Uma história de conflitos e numerosas lutas, protagonizada por um povo que procura reaver o seu verdadeiro território, mas que encontra obstáculos pela reivindicação de terras por uma nação de costumes distintos, mas desejos semelhantes. Em meio a um cenário tão áspero e controverso, o filme Lemon Tree, dirigido pelo cineasta israelense Eran Riklis, se expõem, apresentando uma visão simples, sincera e de grande singularidade, diferenciando-se dos costumeiros e triviais roteiros hollywoodianos.

Durante o filme, a incumbência do diretor não é apresentar um lado próprio na eterna luta entre judeus e árabes. Não são expostas cenas de violência, como seria típico em um filme da mesma temática, ou grandes questionamentos a respeito das atrocidades da guerra, que levou à morte inúmeros indivíduos durante o desenrolar dos séculos. O que é manifestado é a diferença de dois lados aparentemente distintos, mas que possuem diversas semelhanças entre si, como a busca pela paz e pela felicidade, em um mundo sem disputas constantes. Um mundo em que as nações possam ter sua própria fé e sua própria crença, sem sofrer discriminações.

Lemon Tree exibe a história de Salma Zidane (interpretada pela excelente atriz Hiam Abbas), uma viúva de meia idade, que vive em meio a sua plantação de limões, cujo cuidado garantiu o sustento da família por mais de 50 anos. No momento em que Israel Navon, o Ministro da Defesa de Israel (interpretado por Doron Tavary), muda-se para a casa ao lado de Salma, surge o impasse: os limoeiros devem ser cortados para evitar um possível ataque terrorista contra o Ministro. No entanto, Salma não aceita silenciosa tal exigência, e parte para uma batalha judicial para que seja garantido o direito de seus limoeiros continuarem a existir.

Em meio à contenda de interesses entre Salma e o governo de Israel, está Mira Navon (Rona Lipaz-Michael), a mulher do Ministro. Poucas palavras são proferidas entre Salma e Mira, mas a troca de olhares entre as duas mulheres, em cenas que despontam durante todo o filme, se apresentam como as mais significativas da obra. De um lado da cerca está Salma, a mulher árabe em resistência, acostumada ao sofrimento e vivendo um impasse em sua religião e em suas raízes. Do outro lado está Mira, judia de família abastada, culta, que percebe o drama que a cerca e se sente culpada, mas pouco pode fazer a respeito. Duas mulheres de personalidade forte, acostumadas a seus próprios mundos e a vivenciar suas próprias misérias, seja em meio a limoeiros ou em uma residência de luxo.

Lemon Tree apresenta um enredo muito além de limões e limoeiros. Os personagens são esmiuçados de modo intenso, especialmente Salma, mantendo-se ávida por mudanças, mas ligada profundamente às suas crenças. Sua luta para salvar seus limoeiros, sua atitude de coragem e bravura, é um grito para ser notada. Em um cenário reinado pelo desrespeito cultural e racial, a conclusão é que não existem vencedores, mas apenas perdedores em uma luta sem fim. Mais do que simples limões, a fruta ácida traz o simbolismo claro da situação de israelenses e palestinos, vivendo suas vidas amargas, duras, ameaçadas constantemente. Porém, assim como os limões de Salma, é possível fazer uma limonada em que todos concordem pela qualidade. Basta apenas perceber a humanidade em cada indivíduo, vivendo seus próprios problemas, mas unidos pelo amor, pela amizade e pela solidariedade.

O mundo sombrio de Rio Perdido

Ryan Gosling é um dos atores de Hollywood que mais vem surpreendendo público e crítica pela versatilidade de seus papéis ao longo dos anos. Desde romances e comédias de sucesso, como O Diário de uma Paixão e A Garota Ideal, além de filmes alternativos, principalmente nas mãos do diretor Nicolas Winding Refn, em filmes como Drive e Só Deus Perdoa, o ator sempre chama a atenção pela boa atuação. Em 2014, pela primeira vez foi para trás das câmeras, apresentando um submundo sombrio e singular no filme Rio Perdido.


A história nos apresenta à cidade de Rio Perdida, que recebeu este nome após as cidades vizinhas terem sido inundadas com a construção de uma represa. Segundo a lenda, quando a última cidade foi afundada, um feitiço foi lançado em Rio Perdido, fazendo com que o local, mesmo sendo o único a não afundar, parecesse submerso e decadente. E esta maldição só poderia terminar no dia em que um objeto submerso fosse levado à superfície.

Neste cenário de decadência e degradação, estão uma série de personagens que compõem a história de maneira pitoresca. Billy é a mãe de Bones e o pequeno Franky, que para não perder a casa que viveu por toda a vida, busca emprego em um clube em que pessoas se divertem com encenações de morte, banhos de sangue, mutilações e sufocamentos. Bones é um jovem que faz bicos pegando metal em casas abandonadas, e é quem começa a descobrir os segredos por trás de Rio Perdido, ao lado da vizinha Rat, que mora com a avó e o rato de estimação.
Fogo e miséria para Bones (Iain De Caestecker)

As ótimas atuações em nenhum momento deixam a desejar. Os atores principais, Christina Hendricks e Iain De Caestecker, que interpretam respectivamente Billy e Bones, não são muito conhecidos no cinema, mas vem apresentando carreiras sólidas na TV. Hendricks é famosa por sua atuação na série Mad Men, e De Caestecker, por papéis em séries como The Fades e Agents of S. H. I. E. L. D. Já Saiorse Ronan, que interpreta Rat, vem atuando em papéis marcantes em toda a sua carreira, com filmes de grande sucesso, como Desejo e Reparação, Caminho da Liberdade, e o campeão de indicações ao Oscar 2015, O Grande Hotel Budapeste.

Quanto aos personagens secundários, mesmo nos menores papéis, são os que mais chamam a atenção durante todo o filme. Gosling leva a parceira Eva Mendes para interpretar Cat, a estrela do clube perverso, em números hipnotizantes e terríveis de se ver. Matt Smith, o 11º doutor da série Doctor Who, faz uma atuação fantástica na pele de Bully, um vilão intenso, bizarro e que preenche todo o filme, com seus ataques perversos munidos de uma tesoura. E a avó de Rat, mesmo sem nome e sem nenhuma fala durante todo o filme, é importante em toda a teia de personagens, interpretada pela grande atriz dos filmes de terror da década de 60, Barbara Steele.
Bully (Matt Smith)

Rio Perdido é um filme denso e intenso, com um clima sombrio e um cenário de submundo urbano, quase apocalíptico. É uma história aparentemente de fantasia, mas que pode estar acontecendo neste momento, ou vai acontecer em um futuro próximo. O cenário é composto por casas abandonadas, incendiadas e sendo demolidas, com lixo para todos os lados, montanhas de objetos por onde quer que se olhe, além de locais em que a natureza domina, com árvores e folhagens por toda parte em uma cidade abandonada.

Considerado cult e dividindo opiniões desde seu lançamento, é um filme de clima carregado e sem momentos felizes. Até durante risadas e olhares significativos dos personagens, ainda assim lá está a trilha sonora sombria e os closes de câmera bem fechados no rosto dos personagens, evidenciando a vulnerabilidade e o que de pior existe em cada um.

Talvez incomode a falta de respostas para várias perguntas durante o desenrolar do roteiro, como mais explicações sobre a história da cidade, alguns personagens e o resto da família inexistente de Bones. Mas aí está o melhor do filme: o mistério, que encanta pouco a pouco e faz do submundo um local fascinante de se observar. Um filme sombrio que cativa pela vulnerabilidade, e impressiona pela originalidade do mundo novo criado por Ryan Gosling.

Obvious Child: Entre dramas e alegrias

A imagem de um palhaço, com metade do rosto em alegria e sorrisos, e a outra metade em tristeza e lágrimas, é algo muito difundido. Como dito popularmente, grande parte dos palhaços são tristes. Viver para fazer os outros rirem, se cobrando o tempo todo para aparentar felicidade, não deve ser algo fácil. É por isso tão explorado esse lado sombrio dos profissionais do humor, que por baixo de toda a fantasia e a maquiagem, disfarçam uma tristeza intensa e uma vida recheada por problemas. Não é assim a vida de todos?

O filme Obvious Child, de 2014, da diretora americana Gillian Robespierre, trata em grande parte desta questão. A personagem principal é Donna Ster, uma comediante stand-up que até consegue arrancar risadas de seu público, mas que tem como único palco o bar de um amigo também comediante. Nessa vida sem grande glamour de humorista, a situação de Donna se torna ainda mais crítica quando seu namorado, Ryan, termina o namoro no banheiro do bar, ao fim de um de seus shows. 

A vida de Donna, que já estava longe de ser considerada estável, foge ainda mais de suas mãos depois do término do namoro, levando a mulher sempre feliz com a vida a uma situação pouco habitual de tristeza. Em uma noite de bebedeira dias depois, Donna encontra Max, homem acanhado com seus mocassins, que de tão diferente, acaba se mostrando o par perfeito. 

O filme possui uma premissa clara: nada mais, nada menos, do que a vida de uma comediante. Dizer mais seria contar muito da história e estragar o filme, mesmo que dizer menos possa passar a ideia de que seja algo simples ou rudimentar demais. Mas nessa hora, prefiro me omitir. O filme é divertido, fascinante e envolvente demais para ser questionado antes de ser assistido. Mais vale ver Obvious Child sem influências externas, como eu fiz, e se surpreender e se encantar com a delicadeza de todo o desenrolar da trama.

Além de Donna, em meio a uma história divertida e cativante de presenciar, o filme conta também com ótimos personagens secundários, que preenchem o cenário em um desfile de ótimas personalidades. Max é o típico jovem nerd, tímido e contido, que pouco parece ter para compartilhar, mas que ao lado de alguém tão incomum quanto Donna, aparece com seu próprio lado curioso para balancear toda a insanidade que o casal produz. A melhor amiga de Donna, Nellie, é tão divertida quanto ela mesma, funcionando como a voz de sua consciência. E ainda temos o amigo dono do bar, Joey, as divertidas aparições dos pais de Donna, e Sam, interpretado por David Cross, em pequena e engraçada participação.

A atuação de Jenny Slate, intérprete de Donna, preenche todo o filme e encanta do primeiro ao último minuto. A atriz é divertida e convence com suas muitas expressões, em uma personagem que poderia ter caído em estereótipos e futilidades, mas que se mostra envolvente e extremamente interessante de visualizar. Muito me espanta a atriz ser um tanto desconhecida e ter apenas atuado em filmes pequenos, como Alvin e os Esquilos 3, e feito algumas participações em séries, como Parks and Recreation. Mas com uma atuação tão solidamente construída, espero que no futuro a fama esteja em conjunto com seu grande talento.

A trilha sonora do filme é um encanto à parte. A música Obvious Child, de Paul Simon, lançada em 1990 junto ao grupo brasileiro Olodum, dá nome ao filme e se apresenta como a composição perfeita para a história de Donna. O batuque agitado e cheio de vida do grupo brasileiro, junto à voz suave e o toque de violão delicado de Paul Simon, a princípio tão diferentes e impossíveis de se correlacionar, revelam a explosão de sentimentos e emoções que parece existir no interior de Donna. A cena em que a música toca, com Donna e Max cantando e se divertindo no quarto, é para mim a melhor cena do filme. 

Obvious Child é o filme de estreia de Gillian Robespierre, que foi derivado do curta de mesmo nome, lançado em 2009 pela mesma diretora e roteirista. A obra se apresenta como uma comédia romântica, mas das comédias românticas habituais passa muito além. É um filme alternativo e indie, estilo tão popular hoje em dia e que tanto me chama atenção, pela complexidade em roupas aparentemente tão simples. Um filme sobre alegrias, sobre tristezas, mas em sua maior parte, um filme sobre a complexidade de emoções que todos possuem dentro de si.

A Última Estação

"Tudo o que eu sei, somente sei porque eu amo. Liev Tolstoy - Guerra e Paz". Estas são as primeiras palavras do filme "A Última Estação", que narra os dias finais da vida de Liev Nokolaievich Tolstoy, considerado um dos maiores escritores de todos os tempos. Como era de se esperar com esta frase, o filme tem como assunto principal seu amor e seu casamento turbulento com Sofya Tolstoy, que para o grande escritor era esposa, companheira, musa e grande colaboradora. Um amor incondicional que ao mesmo tempo lhe trazia prazer, felicidade e grande regozijo, mas também algumas tristezas e aborrecimentos pelo fato das opiniões de esposa e marido convergirem bastante.

Talvez hoje em dia muitas pessoas não ouçam falar em Liev Tolstoy, mas no século XIX ele foi um dos grandes nomes da literatura russa. Guerra e Paz, sua obra mais famosa, é conhecida mundialmente como um dos maiores livros da história, e seus riquíssimos detalhes e descrições das guerras napoleônicas ocorridas na Rússia são admirados até hoje. Outra obra de sua autoria que alcançou grande sucesso foi Anna Karenina, na qual narra a vida de uma mulher da Rússia Czarista que se vê envolvida em um caso extraconjugal. Além de ser conhecido por essas grandes obras, Tolstoy teve uma velhice marcada por manifestos contra o governo e atitudes pacifistas, e é exatamente essa fase de sua vida que o filme nos apresenta.

O ano é 1910. Liev Tolstoy já adquiriu fama e prestígio, e é conhecido na Rússia como um profeta e até mesmo um santo vivo. Ao lado de seu grande amigo Vladimir Chertkov, criou o movimento tolstoiano, no qual defende seus principais ideias, além de fundar um centro do movimento onde várias pessoas vivem seguindo seus ensinamentos. Valentin Bulgakov se torna o novo secretário de Tolstoy por intermédio de Chertkov, que busca saber tudo o que acontece na casa do amigo. Quando descobre que Sofya não acredita nos propósitos do marido, e quer lucrar com os direitos autorais de seus livros, no qual Chertkov esperava serem leiloados ao movimento tolstoiano, este decide intervir, o que gera uma série de intrigas entre todos.

O ator James McAvoy repete o que fez no filme O Último Rei da Escócia, no qual atuava como um jovem médico amigo de Idi Amin Dadá (Forest Whitaker). Em "A Última Estação", ele faz o papel de Bulgakov, que se torna secretário particular de Tolstoy já na velhice e passa a presenciar todos as suas intrigas familiares com a mulher Sofya. Bulgakov é impotente o filme todo, e não pode fazer absolutamente nada para ajudar ou remediar os acontecimentos. Sua intenção, é claro, se remete apenas a nos apresentar a grandiosa vida de Liev Tolstoy.

Além de James McAvoy, que apresenta mais uma vez um papel brilhante, o filme conta ainda com um elenco extremamente genial e super bem escolhido. Helen Mirren é Sofya Tolstoy, e nos traz seu melhor papel desde A Rainha. Sua atuação é magnífica, o que a torna o grande destaque do filme, e não a toa concorreu ao Oscar como melhor atriz. Christopher Plummer nos apresenta um Tolstoy impecável, no qual não se deve apenas admirar, mas também se espantar com tamanha competência. Além deles, Paul Giamatti é um extremamente bem feito Chertkov, dentre vários outros atores que se destacam.

Com um roteiro, figurino, trilha sonora, cenário e uma fotografia impecáveis, "A Última Estação" é um filme de época há muito não encontrado igual no cinema. Os últimos momentos da vida de Tolstoy, as grandes intrigas e seus principais acontecimentos, são minimamente narrados e nos envolvem imensamente. De direção de Michael Hoffman e baseado no livro de Jay Parini, será um filme que irá instruir e surpreender a todos. Conhecer a vida de Tolstoy realmente é uma coisa que não tem preço. "A Última Estação" se encontra atualmente em cartaz nos cinemas.



As Melhores Coisas do Mundo

Quando ouvi falar do filme "As Melhores Coisas do Mundo" pela primeira vez, logo me veio à mente uma história tola e mal formulada, tipicamente adolescente e com toques de roteiros de novelas como Malhação. Por mais que eu tente, é impossível não formar opiniões precipitadas de filmes antes mesmo de assisti-los. Quando olho para algum, já o classifico como bom ou ruim. De vez em quando, porém, fico feliz por criar essas opiniões precipitadas. Sabe porquê? Muitas vezes, os filmes que eu pensara serem ruins se mostraram ótimos e incrivelmente bons, tornando-se para mim uma grande surpresa. Pois foi exatamente isso o que aconteceu com "As Melhores Coisas do Mundo", que acabou me surpreendendo mais do que nunca.

É frustrante, para nós brasileiros, percebermos que nosso cinema nacional se interessa apenas por temas como tráfico de drogas, miséria, criminosos e assuntos relacionados. Todos os grandes filmes de sucesso nos últimos anos, como "Tropa de Elite", "Carandiru", "Cidade de Deus", dentre vários outros, apenas abordam exatamente esses temas. Tudo bem que são temáticas importantes no nosso país, mas já estamos cheios disso, certo? Inovação e originalidade são tudo o que o cinema brasileiro precisa, e por sorte, de vez em quando surgem alguns assim, como este que vos indico.

"As Melhores Coisas do Mundo" conta a história de Mano, um garoto de 15 anos igual a todos de sua idade. Gosta de sair com os amigos, ir a festas, beijar, tocar violão, andar de bicicleta, dentre diversas outras coisas. A vida para ele nada mais é do que uma grande curtição. Quando seus pais se separam, porém, tudo parece começar a dar errado. Ele percebe que a vida não é tão fácil, mas sim, um grande paradoxo onde devemos fazer escolhas e tomar decisões difíceis o tempo todo. A primeira transa, a descoberta do amor, o preconceito, a insegurança, a busca por popularidade, a vontade de ser aceito. São fatos que começam a fazer parte de sua vida, fatos normais que todos precisam presenciar durante a vida.

O triunfo do filme, sem qualquer dúvida, é sua capacidade de fazer com que os jovens que assistam se vejam e se sintam presentes em todos os acontecimentos da vida de Mano. O personagem poderia ser eu, você, ou qualquer um. Não existe nenhum acontecimento mostrado que seja totalmente irreal ou que ninguém jamais tenha visto. A garota estranha que sofre ao ser chamada de lésbica; a menina que vê suas fotos sem roupa circulando nos celulares da escola; o garoto que sofre pela opção sexual do pai; o sofrimento e até o suicídio de quem sofre por amor. Pelo menos uma dessas coisas já aconteceu em sua escola, tenho certeza disso, pois são situações assim, que podem acontecer com qualquer um, que são abordadas no filme.

De direção de Laís Bodanzky ("O Bicho de Sete Cabeças", "Chega de Saudades"), "As Melhores Coisas do Mundo" foi inspirado na série de livros "Mano", escrita por Gilberto Dimenstein e Heloisa Prieto. Atores consagrados, como Denise Fraga, Caio Blat e Zé Carlos Machado participam do longa, mas ele conta também com atores que não possuíam nenhuma experiência, como Francisco Miguez, que interpreta Mano, Amanda Carvalhosa, Gabriel Illanes e o aspirante a cantor Fiuk. O uso de atores inexperientes foi exatamente o que garantiu a grande realidade do filme, pois tal inexperiência possibilitou uma abordagem ainda mais próxima da realidade.

Enfim, "As Melhores Coisas do Mundo" é um filme que vale mesmo a pena ser assistido. Para os adultos e quem passou da adolescência, pode até não ser lá grande coisa. Mas para nós, que estamos vivendo essa fase tão difícil, será algo para entrarmos de cabeça e nos sentirmos verdadeiramente dentro da história. É ver para crer.

Amelia Earhart

É incrível como o mundo está cheio de artistas famosos e que por mero acaso são desconhecidos por mim. Amelia Earhart é uma dessas celebridades, populares na sociedade e que estão aí, prontas para serem descobertas. Pois nada melhor do que um filme para se conhecer grandes personagens mundiais, e Amelia foi uma delas.

Para quem não conhece, Amelia Earhart foi a primeira aviadora a cruzar sozinha o Oceano Atlântico em um avião. Bateu 15 recordes, e seu nome foi mencionado dezenas de vezes no Guinnes Book. Amelia ainda é autora de um livro que se tornou um grande best-seller nos Estados Unidos.

Em "Amelia", a personagem principal é interpretada por Hilary Swank (Menina de Ouro, A Colheita do Mal), e acredito que esta seja, depois de seu memorável papel da boxeadora em "Menina de Ouro", a sua melhor interpretação. Ela entrou realmente no papel de Amelia, interpretando de um modo louvável a grande aviadora. Richard Gere (Uma Linda Mulher, Atraídos Pelo Crime) faz o papel de editor e marido de Amelia, George Putnam. Gene Vidal, amante de Amelia, é vivido por Ewan McGregor (Star Wars, Anjos e Demônios, A Ilha).

Não vou contar o final do filme, mas posso dizer que está envolto em grande mistério. Sua história está tão fortemente ligada ao imaginário americano que hoje é difícil dizer o que é real e o que é ficção. "Amelia" foi considerado o primeiro filme sério a ser lançado sobre a aviadora, e se baseia na biografia escrita por Susan Butler, Mary Lovell e Elgen Long. É dirigido pela indiana Mira Nair (Feira das Vaidades, Nome de Família)

Curiosidades sobre Amelia Earhart:
- Incrivelmente, ela já passou pelo Brasil. Em 1937, quando queria ser a primeira mulher a dar a volta ao mundo, passou por Natal, no Rio Grande do Norte;
- No filme "Uma Noite no Museu 2", ela é uma das personagens principais, interpretada por Amy Adams;
- Foi citada no seriado "Friends", em 2003;
- Na série "Star Trek: Voyager", de 1955, o mistério de Amelia é desvendado (de um modo bem criativo);
- Inúmeras músicas foram inspiradas em sua vida.

Como toda pessoa que quer alcançar um sonho ousado, Amelia Earhart ouvia constantemente que não iria conseguir. Não iria conseguir voar em um avião sozinha, não iria conseguir cruzar o Atlântico. Pois chegou onde chegou, e hoje é uma das mulheres mais famosas da história dos Estados Unidos. Nas próprias palavras de Amelia, aí vai o meu desfecho:

Todas as coisas que nunca disse por tanto tempo, olhe bem, estão em meus olhos. Todos tem oceanos para cruzar, desde que tenham o coração para fazê-lo. É impulsivo? Talvez. Mas o que os sonhos sabem sobre limites?

A verdadeira Amelia:

Zumbilândia

Zumbis e epidemias mundiais já não são assuntos lá muito inusitado hoje em dia. Depois de "A Noite dos Mortos Vivos", "Madrugada dos Mortos" e "Extermínio", não poderia surgir nada tão bom, poderia? Pois se você pensa assim, está muito enganado.

"Zumbilândia" não é apenas mais um filme de zumbis qualquer. Mistura comédia e terror, com atores memoráveis, como Abigail Breslin (Pequena Miss Sunshine) e Woody Harrelson (Assassinos por Natureza), dentre outros atores menos conhecidos, mas com mesma atuação notável, como Jesse Eisenberg (A Vila, Amaldiçoados) e Emma Stone (Minhas Adoráveis Ex-Namoradas). O filme ainda conta com a participação de Bill Murray, que interpreta a si mesmo e garante uma das partes mais engraçadas do filme.

O longa conta a história de Columbus (Jesse Eisenberg), um jovem que tem medo das coisas mais inusitadas (como palhaços e panos de limpar mesas) e que pensa ser o único sobrevivente em um mundo infestado por terríveis zumbis. Até o dia em que encontra Tallahassee (Woody Harrelson), um homem que não mede esforços para matar zumbis e é louco por bolinhos, além de Wichita (Emma Stone) e Little Rock (Abigail Breslin), duas irmãs que vivem passando a perna nos outros. Mas o problema não vai ser enfrentar os zumbis. O problema vai ser enfrentar uns aos outros, pois ninguém confia em ninguém.

"Zumbilândia" é dirigido por Ruben Fleischer, e estreou no cinema esse mês. Para quem gosta de violência gratuita, nada melhor do que ver os zumbis serem mortos das formas mais inusitadas e criativas possíveis, de um jeito bem descontraído. E para quem quer dar boas risadas, as trapalhadas de Columbus e as loucuras de Tallahasse vão levar qualquer um às gargalhadas facilmente.


Os roteiristas do filme, Paul Wernick e Rhett Reese, garantem uma continuação de "Zumbilândia", e falaram em um um romance para Tallahasse. O que espero é que a continuação seja tão boa quanto o primeiro filme, e que não chegue onde tantas continuações frustradas de outros filmes estão chegando hoje em dia: ao fracasso. Vamos ver no que vai dar.

Onde Vivem os Monstros

Max (Max Records) é um garoto que vive com a mãe e a irmã, porém está sempre muito solitário. O que o ajuda nas horas em que está sozinho é sua super imaginação, que ele utiliza para criar incríveis histórias. Numa noite em que Max estava brincando com sua roupa de lobo, sua mãe leva para casa o namorado. Max então percebe que poderá ficar ainda mais sozinho com sua mãe namorando, e acha que a está perdendo. Briga com ela e foge de casa. Vai para uma floresta não muito longe de onde mora, onde pega um pequeno barquinho e vai navegar. Após muitas turbulências no mar, chega em uma ilha onde vivem 7 monstros. A princípio, eles queriam comê-lo, mas Max convence-os de que é um grande rei e poderá governá-los. E é assim que começa o reino de Max nessa estranha ilha de monstros, onde tudo parece extremamente divertido, mas Max descobrirá logo que não é bem assim.

Essa é a história do filme "Onde Vivem os Monstros", de Spike Jonze. O filme é baseado no livro de mesmo nome de Maurice Sendak, que fez um grande sucesso nos Estados Unidos, mas é um tanto desconhecido no Brasil. Mesmo que você não tenha ouvido falar sobre Maurice Sendak, tenho certeza que conhece algumas de suas obras. Já ouviu falar em "Os Sete Monstrinhos" e "O Pequeno Urso"? Pois é, ele é o escritor dessas séries que passam na TV Cultura.

Quem olha pela primeira vez o cartaz do filme imagina logo que se trata de um filme para crianças. E foi o que pensei. Mas ao assistir, percebi que "Onde Vivem os Monstros" é mais um filme adulto do que infantil. O filme é opressor, melancólico, e incrivelmente nos comove. Já houve uma tentativa frustrada de virar desenho animado pela Disney na década de 1980, mas não deu certo.

Os 7 monstros são como cada sentimento que Max possui. Sua timidez está presente no calado e distante Alexander (Paul Dano) e no contemplativo e melancólico Touro (Michael Berry Jr.). Seu lado amoroso está presente na amável e provocativa KW (Lauren Ambrose) e no simpático Douglas (Chris Cooper). Sua parte agressiva está na irritante e pessimista Judith (Catherine O'Hara). Sua inteligência no criativo Ira (Forest Whitaker). E toda sua parte divertida e alegre está no carismático e impulsivo Carol (James Gandolfini), o monstro preferido do garoto.

Cada cena do filme nos leva a ter um sentimento diferente. Há varias cenas de felicidade, todos os monstros rindo e brincando. Nessas horas meu sorriso se abria sem eu mesmo me dar conta. Quando via, já estava extremamente alegre. Mas alguma coisa sempre acontecia, uma intriga ou uma desavença entre os monstros. O silêncio caía e nem era preciso dizerem nada. Tudo já estava presente naquele silêncio. A melancolia, a tristeza, a solidão. Chegava mesmo a ser assustador. O filme nada mais é do que uma discussão sensível e um tanto triste sobre a infância e o amadurecimento. 



Em relação à trilha sonora, por mim o Oscar já seria de "Onde Vivem os Monstros". As músicas são de Karen O. (do Yeah Yeah Yeahs), e acompanha todas as emoções do filme. Nas partes felizes, as músicas me deixaram num estado exultante, de completa euforia e felicidade. Nas partes tristes, as músicas vão deixar qualquer um melancólico e triste. É difícil entender o que eu estou falando, só quem assistir o filme e se ver tocado pelas músicas é que vai saber como a trilha sonora é excelente.


Lendo a crítica do site Omelete, vi que eles descobriram o adjetivo que mais combina com o filme, que eu estava tentando descobrir desde que o assisti: esquisito. Acredito que não vou encontrar um filme tão esquisito e estranho quanto esse. Estranhamente mexe com a gente. Estranhamente nos faz voltar a nossa infância. E estranhamente não é bobo, como eu pensava. É estranhamente incrível.


Onde vivem os monstros? Os monstros vivem dentro de nós mesmos.

Planeta 51

Tudo bem que sou suspeito para falar, pois eu gosto de todos os filmes de desenho, mas Planeta 51 é com certeza uma das melhores e mais divertidas animações feitos dos últimos tempos. O filme é de Joe Stillman, mesmo roteirista de Shrek e Shrek 2, e animado por computação gráfica pela Ilion Animations Studios. Para quem não sabe a história, vamos lá.

O Capitão Chuck é um astronauta da Terra, que vai explorar um planeta distante chamado Planeta 51. O que ele queria fazer era apenas colocar a bandeira dos Estados Unidos no planeta, dar algumas cambalhotas e jogar golfe. Mas o que ele não esperava era que o planeta fosse habitado por criaturas verdes alienígenas, que por incrível que pareça... têm medo de seres humanos! E não se sabe quem tem mais medo de quem: se Chuck dos alienígenas ou os alienígenas de Chuck. Mas alguns desses aliens não são tão medrosos quanto os outros, e vão ajudar o Capitão Chuck a voltar para sua nave.

Para quem não gosta de animações, ainda assim Planeta 51 pode ser uma grande surpresa, pois trata de vários assuntos do nosso dia a dia. Mesmo o filme se passando em outro planeta, vemos que os problemas dos extraterrestres não são tão diferentes dos nossos. Algumas ideias do filme podem se mostrar um tanto clichês, mas cenas como a de Rupert dançando "Cantando na Chuva" inova e muito o desenho. Planeta 51 é incrivelmente bem feito, os animadores com certeza fizeram um excelente trabalho. Vale a pena assistir!


Hércules

Quem nunca assistiu a animação Hércules, lançada pela Disney em 1997? O filme é o 35º longa-metragem do estúdio, e é considerado um grande clássico. Misturando mitologia grega, aventura, guerras, lutas, romance e muita comédia, com certeza é um dos melhores desenhos da década de 90, e as cinco musas fazem todo mundo dançar com sua excelente trilha sonora.


No filme, Hércules é filho dos deuses gregos Zeus e Hera. Porém, seu tio Hades, deus do mundo inferior, deseja dominar o Olimpo e descobre que terá uma oportunidade em 18 anos, sendo Hércules o único capaz de detê-lo. Hades então manda seus capangas Agonia e Pânico sequestrarem o herói enquanto ele é bebê, para dar-lhe uma poção, tirar sua imortalidade e matá-lo. 

No entanto, no momento em que davam a poção para Hércules, a dupla é surpreendida pelo casal Anfitrião e Alcmena. Assim, o bebê acaba não bebendo a última gota da poção - ele se torna mortal, mas mantêm a força divina. O casal cria o menino, que sendo desajeitado e forte, causa muitos desastres. Adulto, precisa provar para seu pai, Zeus, que é um grande herói, a fim de recuperar a divindade, e para isso terá que decidir entre seus poderes e seu verdadeiro amor. Mas só depois de aprender que o importante não é o tamanho de sua força, mas sim, o tamanho de seu coração, é que ele se tornará invencível.

Se você ainda não assistiu, ainda dá tempo de conferir o desenho. Vale ressaltar que o nome de Hércules em grego é Heracles, então quando alguém disser esse nome não pense que estão falando errado, é apenas uma variação do nome. Mas é preciso corrigir a história do filme: Hércules não é filho de Zeus e Hera, mas sim, de Zeus e Alcmena, e Hera o odiava por ser um filho de Zeus com outra mulher. A prática de suavizar histórias é bem característica da Disney, e com certeza traição não seria um bom tema para colocarem em um filme para crianças.

Conheça a verdadeira lenda sobre o herói: O nascimento de Hércules provocou a ira de Hera, que mandou duas serpentes matarem o recém-nascido. O garoto, porém, estrangulou as cobras sem esforço e mostrou possuir uma grande força desde cedo. Hércules cresceu, mas Hera continuou a persegui-lo e usou seus poderes para provocar um acesso de loucura no herói, que acabou matando a própria esposa e os filhos. Quando Hércules recuperou a razão, procurou o Oráculo de Delfos - o mais famoso templo de consulta às divindades gregas - para buscar orientação sobre como enfrentar a tragédia. O Oráculo mandou-o se entregar em servidão a Euristeus, rei da cidade de Micenas, que ordenou a realização de seus 12 famosos trabalhos.

Quais são essas 12 trabalhos? Leia o próximo post e descubra.

Efeito Borboleta

Quando alguém diz que quer mudar o passado, tenho certeza que se essa pessoa assistir "Efeito Borboleta" vai desistir da ideia na mesma hora.

O filme conta a história de Evan Treborn (Ashton Kutcher), um jovem estudante que sofria com vários desmaios e bloqueios de memória quando era criança. Já adulto, encontra seus antigos diários e percebe que ao lê-los consegue voltar no tempo e mudar o que fez no passado. Assim, com suas idas e vindas temporais, sua vida muda radicalmente, pois o passado não é simples de ser alterado e pode resultar em inúmeras situações inesperadas que, no futuro, podem se tornar catastróficas.

A cada vez que muda o passado, o futuro se torna mais incerto. Mas não é apenas a vida de Evan que muda, mas a de seus amigos, de seus pai, e de todas as pessoas ao seu redor. O simples fato de quebrar um copo no passado, talvez cause a morte de sua mãe no futuro. Quando ele percebe isso, já é tarde. O futuro está tão intensamente alterado que ele tem que mudá-lo o tempo todo se quiser ver todas as pessoas a sua volta bem e felizes.

Será que mudar o passado é uma dádiva tão boa assim? Imagine se você voltasse no tempo e fizesse com que aquele seu amigo que mudou para outra cidade não mudasse. O que será que aconteceria? Talvez metade da população da cidade em que seu amigo havia se mudado desapareça, pois ele poderia ter salvo a vida dessas pessoas. Talvez uma garota fique eternamente infeliz por nunca ter namorado seu amigo. Talvez... Talvez... 

Pensar em mudar o passado é um jogo bastante prazeroso, pois tudo o que você não fez poderia ser feito, e tudo o que fez e se arrepende poderia ser desfeito. No entanto, o passado pode parecer fácil de manipular, mas não o futuro. O futuro é incerto. Nunca sabemos o que nos acontecerá amanhã. Será que um piano cairá em nossas cabeças? Será que o mundo vai acabar? Não importa. O que importa é o que fazemos agora. Então preste atenção nisso: viva bem o presente, para que você não precise mudar o passado e seu futuro não seja mudado radicalmente. Entendeu? Assista ao filme que você vai entender.

O filme é baseado na teoria do caos:
"Uma coisa tão simples, como o bater das asas de uma borboleta, pode causar um tufão do outro lado do mundo."

Trocas Macabras - O que você faria por aquilo que mais deseja?

Imagine se você encontrasse a última e mais rara figurinha do seu álbum, ou se achasse um brinquedo considerado há muito perdido. Agora pense o que faria para conseguir essas coisas. Não tendo dinheiro, aceitaria as condições impostas pelo vendedor? Mataria, roubaria, faria o que for? Essa é a questão principal tratada no filme "Trocas Macabras". 

Na pequena cidade de Castle Rock, todos vivem em paz. Até que Leland Gaunt (Max von Sydow), um estranho comerciante, abre uma loja onde incrivelmente tudo o que as pessoas mais querem está à venda. Mas ele não vende nada por dinheiro, tudo o que quer são pequenos favores. E são esses pequenos favores, como "roube alguma coisa", ou "atire pedras na casa de alguém", é que geram pouco a pouco uma guerra intensa entre todas as pessoas da cidade. Mas o xerife Alan J. Pangborn (Ed Harris) não vai permitir que esse demoníaco homem destrua Clastle Rock, uma cidade tranquila e pacífica.

Trocas Macabras é um dos melhores filmes de adaptações de livros de Stephen King. Não é bem um terror com monstros ou criaturas sobrenaturais como estamos acostumado a ver nas obras do autor, mas um terror psicológico, em que paramos para pensar a todo momento: "Será que faria tudo isso por algo que desejo?". 

Acredito que não me venderia tão fácil para alguém, mas pensando melhor, se alguém aparecesse com o livro A Ilha do Tesouro autografada por Robert Louis Stevenson, como aconteceu com um dos personagens de "Trocas Macabras", acredito que faria muita coisa para consegui-la. E você, o que faria por aquilo que mais deseja?


"Trocas Macabras" é um filme de 1993, com direção de Fraser Clarke Heston.