Aqui estou eu com a primeira história do ano. Não vou esconder o óbvio: as irmãs Garbo foram inspiradas nas irmãs Sanderson, do filme Abracadabra. Mas resolvi fazer uma história voltada para o terror e bem mais sinistra. Espero que gostem do modo que escrevi. Quem está curioso para ler a continuação, vai ter que aguentar um pouco: sábado que vem tem mais!



Era meia-noite quando o primeiro grito foi ouvido. As estrelas, escondidas por nuvens avermelhadas, não deixavam trespassar nenhuma luminosidade. Até a lua, sempre reluzente, estava escondida. Talvez por medo. No grande salão do mausoléu abandonado, a escuridão se tornava cada vez mais sombria. Por um momento, o salão transformou-se em um negror e um frio insuportáveis, quase impossíveis de se tolerar por um minuto sequer. O longo grito ecoava sem parar, como se nunca fosse ter um fim. Finalmente cessou, e com isso a escuridão se tornou menos negra e o salão voltou a seu clima ameno habitual.

Com o ritual completo, Wanda, a aprendiz, viu aparecer uma bruxa à sua frente. Era alta, com longos cabelos ondulados. A roupa, extremamente antiquada, era de cor escura e cheia de babados. Não era bonita nem feia, mas emanava uma forte sensualidade, que fazia com que fosse sempre o centro das atenções nos lugares fétidos que se encontrava. Wanda disse um pouco emocionada:
- Bem vinda, Loretta Garbo, oh Grande Bruxa!

Abrindo a boca carnuda e vermelha lentamente, a bruxa falou:
- Então você me libertou, oh Wanda, filha de Erek e Lahana?
- Como sabe sobre mim?
- Eu sei de tudo. Sei dos vermes que devoram carne pútrida no solo, das mães que matam seus filhos antes mesmo de nascerem, das crianças cada vez mais pervertidas e sanguinárias. Seu nome não é nem de longe algo difícil de se descobrir.
- Tudo bem, Loretta Garbo - disse Wanda, apreensivamente. Começava a ficar em dúvida se tinha feito o certo ao libertar a bruxa milenar. - Agora que a libertei, obedecerá às minhas ordens, não é verdade?
- Isso acontecerá apenas quando minhas irmãs estiverem presentes - disse Loretta, com um sorriso nos lábios.
- Então deixe-me terminar com o ritual.

Wanda se dirigiu novamente ao meio do salão, como havia feito poucos minutos antes. Uma grande estrela de cinco pontas estava desenha com seu sangue no chão, e em cada ponta uma vela negra se encontrava. Quando a Grande Bruxa havia surgido, todas as velas se apagaram. Acendendo-as novamente, Wanda saiu do meio da estrela e gritou bem alto:
- Oh Elga Garbo, filha do próprio Ser das Trevas. Volte do passado, insurja no presente. Sua maldade é necessitada, por isso retorne com seu coração ausente.

O segundo grito foi ouvido naquela noite. O salão do mausoléu novamente se tornou imensamente escuro e gelado, até que o grito cessou e tudo voltou ao normal. Elga Garbo possuía os mesmos traços da irmã, mas era um pouco mais gorda e mais baixa, além de ter cabelos presos em um coque na cabeça. O que a diferenciava da irmã, sem qualquer dúvida, era a falta de um coração, que havia sido oferecido há muito tempo em um sacrifício.

- Bem vinda, irmã - disse Loretta Garbo.
- Onde está Amanda? - falou pela primeira vez Elga, com uma voz profunda e penetrante.
- Está a caminho. Sim, logo logo ela estará aqui.
Wanda, sem perder tempo, fez o mesmo processo de acender as velas como antes. Porém, suas palavras foram diferentes.
- Oh Amanda Garbo, filha do próprio Ser das Trevas. O passado já era, o presente te espera. Deixe sua maldição para trás, surja com seu gato Barrabás.

Um terceiro grito foi ouvido na noite, e como as outras duas vezes, a escuridão e o frio reinaram por alguns instantes. Logo depois, lá estava Amanda Garbo, sorridente como sempre, ao lado de seu felino diabólico. Segundo a lenda, ela havia se relacionado com uma cobra, e dessa relação nascera o gato Barrabás.
- Queridas irmãs, que bom ver vocês! - disse a sentimental Amanda.
- Poupe-me de seu sentimentalismo barato - disse Loretta Garbo, a Grande Rainha das Bruxas, uma das filhas do Ser das Trevas. - Temos um feitiço a ser executado.
- Quando, sereníssima irmã? - como sempre, Amanda gostava de enfurece-la.
- Já! - gritou Loretta, já perdendo a paciência.

Virando-se para Wanda, disse com voz passiva:
- Minha querida, você tem a consideração das três bruxas de Wickhell. No entanto, agora chegou a sua hora.
- Mas... mas... eu as trouxe de volta! Vocês estão sob meu comando! - disse Wanda, lívida de medo e terror.
- Você já cumpriu seu papel. Esta parte do "estamos sob seu comando" é apenas uma história para que alguém nos traga de volta. Aliás, nunca espere nada de uma bruxa, muito menos das três bruxas de Wickhell.
- Não! Vocês não podem fazer isso comigo! - e dizendo isso, Wanda começou a correr. Mas era inútil.

As três bruxas levantaram as mãos e recitaram rapidamente o feitiço:
- Wanda, filha de Erek e Lahana, você nos trouxe de volta - disse Elga.
- Porém, lembre-se bem, nada mais importa - disse Amanda.
- Isso porque, minha querida, você estará morta - disse Loretta.
Raios verdes saíram de seus dedos e voaram para o coração de Wanda. Esta caiu no chão com um baque surdo, e no mesmo instante estava branca e gelada. Morta e rígida como um pedaço de madeira.

- Bem, irmãs, estamos de volta. O futuro nos espera. Preparem as vassouras, vamos partir para nossa cabana. Faremos de tudo para que nosso plano dê certo. Quem entrar em nosso caminho será descartado sem demora. Voemos! - disse Loretta Garbo, montando em sua vassoura e voando pela escuridão com suas duas irmãs.