A Livraria 24 Horas do Mr. Penumbra, de Robin Sloan, é o tipo de livro que parece preencher todos os requisitos básicos para uma boa e velha história tradicional. Podemos perceber o personagem principal, bem humorado e divertido contando sua história; os personagens secundários que, no desenrolar da narrativa, apresentam papéis importantes e são um divertimento a parte; e o enredo com uma pitada de originalidade, com boas cenas de humor, aventura, mistério e até mesmo suspense, para prender a atenção do leitor. É um livro que não decepciona por estar sempre em um padrão certo, mas é exatamente este fato o que incomoda um pouco durante a narrativa.

Em sua estreia no mundo da literatura, o autor parece não querer se arriscar demais e nem tramar nada muito complexo. A história criada é simples, certa, linear e correta. Não é algo ruim, mas o resultado não é extraordinário, e sim, equilibrado e estável. Um livro merece, e muito, estar além de adjetivos sinônimos à "regularidade". A leitura não cansa pois não chega a ser ruim, mas também não surpreende por não conter grandes reviravoltas. Mas convenhamos: leitura leve e clichê tem seus momentos, e A Livraria 24 Horas do Mr. Penumbra acaba se mostrando uma leitura bastante agradável.

O livro conta a história de Clay Jannon, um jovem web designer formado e sem emprego, em meio a crise econômica dos Estados Unidos. Na falta de espaço em seu ramo no mercado de trabalho, começa a trabalhar na misteriosa Livraria do Mr. Penumbra. Com clientes estranhos surgindo para pegar livros em código na madrugada, Clay começa a tentar desvendar o mistério do local com a tecnologia que possui em mãos. A partir daí, é apresentado a uma série de novas aventuras, com sociedades secretas, gênios da tipografia, tesouros perdidos, promessas de vida eterna e personagens para lá de sinistros em seu caminho.

O livro possui méritos próprios o suficiente para não ser uma leitura que seja passada em branco. Sim, o leitor não precisa esperar muito: é clichê e tudo o que se espera basicamente é realizado. Mas entre os livros normais e previsíveis que podemos encontrar todos os dias em estantes de livrarias, este talvez seja um dos mais legais para serem lidos. Um dos melhores pontos é o tema de A Livraria 24 Horas do Mr. Penumbra. A princípio, uma narrativa com bibliotecas antigas, passado misterioso e livros sinistros ao lado de tecnologia, inovação do futuro e Google, parecia uma combinação improvável, e fiquei com a sensação de que o autor estava cometendo um erro grave. Mas com o desenrolar das páginas, surge uma história divertida, bem feita e palpável. A união de passado e futuro, assim como deve ser a humanidade.

Outro tema extremamente interessante na obra é a tipografia. Clay é formado em design, e a arte da tipografia tem importância crucial na história, integrando todo o mistério por trás da sociedade secreta da qual Mr. Penumbra faz parte. Talvez quem não conheça o assunto fique um pouco perdido no início da trama, mas com o tempo se inteira totalmente da questão. A tipografia é basicamente a arte da criação dos caracteres de um texto, ou seja, a fonte que uso nesse blog ou a que está nas páginas do livro. É um assunto que chama a atenção por seu caráter antigo, e é interessante saber um pouco mais da história do tipógrafo Aldus Manutius, que realmente existiu e é peça chave no livro.

Mesmo com um fim claro e previsível desde o início da leitura, A Livraria 24 Horas do Mr. Penumbra apresenta uma narrativa competente. A linearidade do livro é algo que atrai, com a história sendo montada como um grande Lego, em que você sabe como vai ficar no fim, mas é mais do que curioso ver o processo de montagem. Entre o passado obscuro e o brilho do presente, a leitura é uma mistura de cores, de épocas e de emoções. Um livro leve, divertido e para ser lido em um momento ocioso e de descontração.