Você certo dia desiste.
Abaixa a cabeça e decide parar de fazer tudo.
Cruza os braços contra o peito.
Como uma criança mimada.

Alguns dizem que desistir é para os fracos.
Mas é necessária muita coragem para desistir.
Porque você não desistiu da noite para o dia.
Você levou a vida toda para isso.

Você acorda todos os dias esperando que algo de bom apareça.
Esperança.
Levanta da cama todos os dias torcendo para um dia de mudanças.
Confiança.
Sai de casa todos os dias querendo ser alguém melhor.
Desejo.

Mas nada nunca acontece.
Você continua o mesmo.
Você não é nada.
Ninguém.

Você para exatamente onde está.
Ainda olha para trás em busca de algo ou alguém.
Porque a esperança é a última que morre.
Mas nada aparece.

Você deita no chão.
E pretende nunca mais levantar.
Porque em seu pequeno espaço você é o rei.
Onde pode mandar e fazer o que quiser.

Mas você está sozinho.
E não existe ninguém em quem mandar.
Você manda apenas em você mesmo.
E nem mesmo se obedece.

Você sempre odiou dormir.
Porque o mundo sempre foi bonito demais para perder dormindo.
Mas agora a melhor opção é fechar os olhos.
E o silêncio.

Então o sono vem e, junto, a eternidade.
Você dorme por anos.
E plantas e árvores crescem a sua volta.
Quase não é possível reconhecer você.

Até que um dia aparece um menino e sua mãe.
A criança olha para você e se assusta.
Os olhos se arregalam.
- Olha, mãe! Uma pessoa no mato.

A mãe nem mesmo olha.
Está cansada.
- Não chega perto, filho, vai que pega.
Os dois saem andando.

E uma lágrima escorre por seu rosto.
Que não é um rosto.
É uma casca dura de vazio.
É um nada.

Um grande nada, como você sempre foi.