Ela contou-lhe sobre a morte no natal.

- A verdade, meu querido, é que todas as pessoas morrem. Assim como eu irei morrer daqui a alguns anos, seus pais irão morrer daqui a muitas décadas, e até mesmo você não estará mais neste mundo oitenta ou noventa anos depois de hoje. A única certeza que temos na vida é a de que morreremos algum dia.

O garoto sentiu uma grande angústia dentro do peito, como se o ar houvesse desaparecido da sala e fosse impossível respirar. Ele viu a árvore de natal, todos os enfeites natalinos brilhando contra a luz, as profundas rugas de sua avó, e o retrato de seus pais sobre a lareira, e percebeu o quanto tudo era ínfimo e insignificante.

- E para onde vamos quando morremos, vovó? - perguntou o garoto com os olhos vermelhos.

- Eu poderia dizer muitas coisas, meu querido - continuou ela. - Poderia dizer que vamos para o céu por sermos bons, viver eternamente felizes ao lado de Deus e dos anjos. Poderia dizer que voltaremos para a vida como outras pessoas, ou até mesmo como animais. Que nos tornaremos lindas estrelas para brilhar sempre no universo, ou que seremos espíritos vagando pelo mundo. Ou, até mesmo, que desapareceremos, dispersos no infinito na forma de átomos, e não seremos mais nada. Eu poderia dizer muitas coisas, mas a verdade é que não sei. O que sei é que precisamos acreditar em algo, seja lá o que for. Pois de outra forma, a vida não teria sentido, nada teria sentido. Deve existir um lugar melhor. Tem que existir um lugar melhor.

Lágrimas escorriam pelos olhos da velha, ao mesmo tempo em que o garoto soluçava. Ela pegou-o no colo e o abraçou, balançando-o para trás e para frente. Seus rostos se colaram e suas lágrimas tornaram-se unas.

- Então para que viver, se vamos todos morrer no fim?

- Esta é uma pergunta interessante, pequenino. Gosto de pensar que se estamos na chuva, é para nos molharmos. Para que vivermos tristes até o fim? Que vivamos cada dia como se fosse o último, da melhor forma possível e que mais nos agradar. Você ainda é muito novo e ainda tem muito o que aprender neste mundo. Mas o que quero que faça é que você tente ser lembrado. Pessoas podem ser esquecidas, mas as memórias se fixam na mente e nunca deixam de existir. As lembranças são o que tornam as coisas eternas, e eu sei que serei eterna enquanto você existir.

O garoto nunca mais se esqueceu daquele distante natal, que ficou gravado em sua memória como ferro em brasa. Passou longos meses com medo da morte, da vida, de tudo relacionado à sua própria existência. Até que o tempo passou, e sua avó se foi poucos anos depois. Ele se sentiu só, tão só quanto o último ser humano na Terra, e pensou que seria afogado por tal sentimento. Mas ele lembrou-se das palavras da velha senhora, e ergueu o rosto para não se afogar na tristeza. Com ele no mundo, existindo, lembrando, sua doce avó nunca seria esquecida. 

E o garoto pensou em seus próprios meios para ser eterno neste mundo. Talvez não eterno, mas que pelo menos durasse mais tempo do que os poucos anos que cada um permanece em vida. Ele poderia ter filhos, ter netos, ser um grande artista e ter o rosto gravado para sempre na história.

Mas ele pegou lápis e papel, e se tornou escritor.