inserção de meu mundo nas obras do diretor Noah Baumbach começou por acaso, a partir de Frances Ha, lançado em 2012. Sem querer declarar muito sobre o filme, para não me estender demais, posso dizer que Frances Ha chamou a atenção pela mistura do simples e do complexo, pela exposição do mundo em preto e branco que todos possuem dentro de si, e pelo grito que ecoa dos que se sentem perdidos e sem saber o que fazer. Ainda preciso ver muitos filmes do diretor, mas sigo assistindo seus lançamentos e resgatando as histórias antigas para criar um cenário completo de sua obra em minha mente.

O que mais me chamou a atenção em sua carreira foram as parcerias com Wes Anderson, diretor que considero um dos melhores da atualidade e cujos filmes acompanho avidamente. Baumbach escreveu junto a Anderson os roteiros de O Fantástico Sr. Raposo, baseado na obra de Roald Dahl (escritor que sou fã), e A Vida Marinha de Steve Zissou, que considero o melhor filme de Wes Anderson. Além disso, sua parceria com Greta Gerwig, atriz e co-roteirista da maioria de seus filmes, além de companheira na vida real, é fantástica.

Em Mistress America, seu mais novo lançamento, Baumbach nos traz a mesma temática de seus outros filmes e o mesmo estilo tão característico: personagens inertes no mundo, sem lugar, que buscam algo ou alguém que não fazem a mínima ideia do que realmente seja. É um filme ao mesmo tempo cheio de detalhes interessantes e impressionantes, que fascina do início ao fim, assim como está cheio de imperfeições e parece uma obra inacabada. No entanto, é esse o seu diferencial, essa mistura de certo e errado que faz do filme tão fascinante.

Mistres America nos apresenta Tracy, uma jovem que acaba de se mudar para Nova York para entrar na universidade, e se vê sem amigos, sem ter para onde ir ou o que fazer. Persuadida pela mãe, que iria se casar em breve, a procurar sua futura irmã, Tracy conhece Brooke, de 30 anos, uma mulher decidida, adulta, cheia de planos e ideias, com uma personalidade que representa tudo o que Tracy gostaria de ser. Com apenas um encontro, a jovem passa a admirar Brooke, se espelhar e até mesmo escrever uma história inspirada em sua vida para conseguir entrar em um clube de escrita da universidade.

Antes de mais nada, é preciso dar crédito à parte técnica de Noah Baumbach. A filmagem impressiona, com cenas extremamente rápidas, que vão sendo cortadas de forma ágil e representam a frugalidade do tempo, além de dar uma dinâmica bem original à história. De todos os filmes atuais, não me recordo de nenhum com este diferencial e com uma característica tão interessante. Os closes em olhares e expressões dos personagens, também tão comuns no filme, são acompanhados por uma trilha sonora dos anos 70/80, com um teor saudosista e que desperta um algo a mais em quem assiste.

A atriz Greta Gerwig, que também co-escreve o roteiro de Mistress America, é mais uma vez um dos pontos que chamam a atenção na obra de Noah Baumbach. Após estrelar a maioria dos filmes do diretor, como Frances Ha, O Solteirão, Lola Contra o Mundo, dentre diversos outros, a atriz continua a manter um papel diferenciado na pele de Brooke. Todas as suas personagens possuem uma certa semelhança, mas ainda assim a atriz consegue não se repetir, em uma atuação maravilhosa e que passa sentimento, emoção e o inconformismo característico de Baumbach. 

Lola Kirk, que dá vida à Tracy, é outra atriz que foi extremamente bem escolhida e possui todas as características certas para esse tipo de história. Kirk se tornou famosa pela participação na série Mozart in The Jungle, vencedora do Globo de Ouro de Melhor Série de Comédia ou Musical em 2016. A atriz encontra seu lugar no filme de Baumbach. Com uma expressão perdida e de quem não sabe para onde ir, ela representa Tracy em uma atuação espantosamente bem feita e que impressiona do início ao fim.

Algo fascinante no filme é o choque de realidade entre pessoas de 20 anos e as de 30. À primeira vista, os mais novos parecem ser infantis e imaturos, enquanto aos mais velhos são atribuídos a inteligência, a maturidade e o refinamento. Mas a partir do momento em que o mundo de Brooke e Taylor se juntam, tudo isso vem a baixo. Brooke pode viver em um mundo de liberdade e múltiplas escolhas, mas possui inúmeros defeitos e fragilidades, assim como Taylor, em seu mundo imaturo, pode ser mais adulta do que aparenta e apresentar sonhos maiores do que muitos imaginam.

Além de Tracy e Brooke, temos uma série de outros personagens que dão vida a história e contribuem para uma dinâmica bem interessante ao filme. Em busca de dinheiro para construir um restaurante, as duas meio-irmãs vão a procura de um velho namorado de Brooke, Dylan (Michael Chernus), e partem junto a um colega de universidade de Tracy, Tony (Matthew Chear) e sua namorada (Jasmine Cephas Jones). Junto à mulher de Dylan, Mamie-Claire (Heather Lind, de Turn - Washington's Spies), o elenco é inteligente, engraçado e funciona muito, muito bem, principalmente nos momentos em que estão juntos.

Mistress America diz respeito a sonhos e pessoas fora de seu lugar. É um filme de pessoas inquietas, que não estão satisfeitas com seu mundo, e sua essência está na seguinte fala de Brooke, que considero a melhor do filme:
Eu acho que estou doente, e não sei se esse mal tem um nome. Eu fico sentada, assistindo televisão ou na internet, por muito tempo e tentando evitar isso, e depois mentindo para mim mesma. Daí me empolgo com algo, aquilo toma conta de mim e não durmo nem faço nada, e me apaixono por tudo. Mas não descubro como me fazer funcionar no mundo.
Ainda não consegui encontrar um filme perfeito de Noah Baumbach, mas estou à procura. Talvez a mistura de suas falhas e irregularidades, somado à sua humanidade e inquietude, seja um modo de perfeição própria. O que posso dizer é que, com toda a certeza, continuarei assistindo aos seus filmes avidamente, pois cada um possui um diferencial, e o sentimento de algo a mais é sempre fascinante de descobrir em suas histórias e personagens extremamente originais.