Estou sentado na varanda da fazenda da família, no fim das comemorações de Ano Novo. O sol acabou de se pôr no horizonte, trazendo aquele frio brando e característico das noites em meio a natureza, mesmo com o forte calor que durou por todo o dia. Meus pais, irmão, tios e primos estão sentados na varanda em cadeiras e poltronas, conversando e trocando histórias, reclamado de tempos em tempos por eu estar no canto mais afastado escrevendo no notebook. Dou um sorriso amarelo, balanço a cabeça em concordância, e continuo escrevendo sem me importar.

Meus pensamentos estão longe, bem longe, alcançando este blog que nem posso acessar neste momento. A internet não existe na fazenda e já vou escrevendo adiantado para o dia seguinte, quando poderei postar. Só para constar, estou escrevendo no sábado, dia 2 de janeiro, e postarei no domingo (no caso, hoje). Uma seleção de músicas dos anos 80 começa a tocar no pequeno som da família. Eu aumento o volume das minhas músicas e abaixo a cabeça, continuando a escrever e tentando não prestar atenção em todo esse movimento.

Começos de ano são sempre iguais. Sempre existem diversos sonhos prometidos, aquela vontade de fazer algo diferente, metas que dificilmente serão cumpridas. Eu, pelo menos, já tive minha cota de sonhos, promessas e listas de coisas a fazer nesta época, sempre feitas pela metade ou nem mesmo iniciadas. Mas um desejo surge, um item em uma lista sem outras coisas para cumprir: assiduidade neste blog.

Sempre me perguntei o que leva um blog a fazer sucesso. Vejo tanta gente com blogs literários, sobre cinema, moda, música ou histórias do cotidiano, blogs temáticos e com fãs fervorosos. Ao iniciar este blog, o que desejava era justamente fazer um que ganhasse sucesso como tantos que vejo por aí, mas hoje em dia percebo o quanto era uma ideia equivocada e que não desejo nem um pouco alcançar.

Antes de mais nada, não quero me prender a uma editoria, um modelo ou um estilo específico. Adoro livros, mas não quero escrever apenas sobre eles. O mesmo posso dizer sobre filmes ou músicas. Além disso, para que eu possa escrever sobre um determinado filme ou livro, preciso me entusiasmar por ele. E se não aparecerem filmes e livros suficientes para me entusiasmar todas as semanas? E mais essa: quando eu quiser escrever sobre outros assuntos, estarei proibido a fazer isso no meu próprio blog? É algo absurdo de se pensar. Por isso, vou escrevendo o que me der vontade.

Em segundo lugar, sou tímido e digo com toda a certeza: escrevo este blog mais por mim mesmo do que por qualquer outra coisa. Egoísmo? Talvez. Gosto de escrever, quero ter esse hábito sempre, e tudo o que escrevo, antes de mais nada, é como uma construção pessoal. Nem mesmo divulgo o blog, tamanha é minha timidez com meus escritos. O que me deixa feliz são essas pessoas que encontraram meu blog de algum modo e estão sempre por aí, lendo meus textos, comentando e dando o prazer de suas presenças. É, você mesmo que está lendo essa linha, obrigado por estar aqui!

Em 2016 este blog completa 6 anos, e já é uma pequena criança. Quando comecei, eu tinha lá meus 15 anos de idade, querendo encontrar um lugar para publicar meus textos e minhas histórias ridículas, que tanto me faziam feliz na época. Com o tempo, inevitavelmente acabei parando de postar, e assim foram alguns anos sem nada. Até que em 2015 (ano passado), finalmente criei coragem, mudei o layout e passei a publicar com maior frequência. Vamos combinar que ainda procuro meu estilo próprio, minha forma de escrever, a característica própria pela qual quero conduzir o blog. Enquanto não encontro isso, vou conduzindo da melhor forma possível, e fazendo experimentações.

Acho extremamente pretensiosas essas promessas de que "vou postar mais esse ano" ou "esse ano me dedicarei exclusivamente ao blog". Promessas de político, nada mais. O que adianta fazer uma promessa dessas, se escrever vai muito além de mim? Posso ficar sem tempo, sem inspiração, ou coisa parecida. Resolvi tirar no início deste ano uma folga do mundo, de internet, Facebook, whatsapp e tudo isso. Às vezes sou assim e simplesmente preciso de um tempo só para mim. Neste momento, nunca precisei tanto de passar um tempo sozinho, e parece que preciso desse tempo para espairecer a mente. Mas neste momento, ainda assim mantenho um laço: este blog. Não posso prometer que vou postar sempre (minha meta, no caso, é toda semana), mas posso prometer que vou tentar. E o tentar já é o suficiente para mim, e espero que seja o suficiente também para os poucos que me acompanham.

Meus parentes já se esqueceram de mim aqui na fazenda. Alguns foram para a cozinha, outros dançam, outros ainda comem a carne mal passada que acaba de sair da churrasqueira. Acho que já é o suficiente por hoje neste notebook, sozinho e longe das pessoas. O Ano Novo também trouxe uma vontade de calor humano, de querer participar do mundo, de buscar uma interação que quase sempre fujo. Não tenho muita paciência para esse tipo de coisa, mas também pretendo tentar mais a respeito disso. O próximo passo é sentar perto da churrasqueira, ao lado das labaredas que sobem e clareiam a escuridão, e esquecer todo o resto. Parto com um sorriso no rosto.