Volta e meia apareço por aqui para relatar minhas crises existenciais, divagando sobre dúvidas, medos e aflições em relação à vida. Quanto mais o tempo passa, mais percebo que nada sei sobre o que quero. Não sou pedante a ponto de me achar o diferentão e o único a ter esse tipo de pensamento, mas chega a ser claustrofóbico essa inconstância de pensamento. Vamos às minhas últimas reflexões sobre o tema.

As aulas da faculdade voltaram há pouco mais de um mês, e como sempre, o sentimento na hora do retorno foi o mesmo que pular de um despenhadeiro. O que percebo com cada vez mais intensidade é minha aversão por fins, somado ao medo tremendo de iniciar novas ações. Acho que 90% da população sofre da mesma mazela, mas claramente estou incluído no grupo dos retardatários que perdem noites de sono pensando no assunto.

Vamos pegar aulas e férias como exemplo. No final do semestre passado, tudo o que menos queria na vida era entrar de férias. Estava acostumado às aulas, a estar com meus amigos, a sair quase todos os finais de semana. Sentia escorrer pelo meu peito o medo de entrar de férias e tudo isso sumir por completo. Dito e feito. As aulas chegaram ao fim, e junto, foram iniciados dias solitários, tediosos e sem nada para fazer.

As primeiras semanas não foram fáceis. É claro que não vejo um sumiço proposital por parte dos meus amigos, já que todos possuem vidas, famílias e afazeres próprios. Mas querendo ou não, me encontrei onde não queria chegar. Estava em casa, sem ninguém por perto, querendo sair e sem ter para onde ir. Praticamente, do mesmo modo que estive a vida toda.

Um grande problema que tenho é me acostumar fácil à rotina, por pior que seja, e foi o que aconteceu em relação a essas últimas férias. Livros, filmes e séries: estes foram os meus únicos guias e companheiros durante quase dois meses, após passar todo o sofrimento inicial. Mas como os dias passam rápido demais, logo veio 2016 e o início das aulas.

Eu queria estar ao lado dos meus amigos. Sentia falta de sair, de participar. Mas ficar em casa, sem fazer nada, sempre parece mais fácil. Muito mais fácil e sem maiores dores de cabeça. Mesmo odiando tudo aquilo, querendo fugir da rotina extremamente tediosa, ainda assim é mais simples ficar acomodado. Faltei aos primeiros dias de aula, e nem me imaginava voltando.

Mas voltei, e toda felicidade efusiva do ano passado retornou assim que me vi adentrando na faculdade. E neste momento, fechando os olhos, sinto que não quero estar em nenhum outro lugar a não ser nas aulas e ao lado dos meus amigos. Aí eu me pergunto: então pra quê tanto sofrimento, campeão? Como já dizia Schopenhauer, viver é sofrer, e não há escapatória.

No último sábado, em uma de minhas crises, decidi não sair de casa e passar uma noite tranquila assistindo alguns filmes. A noite foi chegando, a solidão foi apertando, e percebi que tudo o que não queria era ficar em casa. Passei minha infância e adolescência inteira tendo como único domínio a cama. Se finalmente tenho amigos e lugares para sair, por qual motivo devo continuar a viver vidas através da ficção? Liguei apressado para um dos meus amigos e corri para longe de casa. A noite foi fantástica e com acontecimentos memoráveis, mas dois pontos se destacaram.

O primeiro foi quando um amigo, meio bêbado e com os olhos brilhando, pediu para não ser esquecido. Após ler o texto no blog em que escrevi sobre meus desdenhados, e muitas vezes detestáveis, colegas de ensino médio, ele disse que seu maior medo era que isso acontecesse com ele. O esquecimento nunca vai alcançar você, meu amigo, e nem qualquer outro dos que enriquecem meus dias atuais, pois a escola pouco significou para mim, enquanto vocês representam tudo. Quando ele me disse aquilo, percebi que todos têm medos, por mais que se mostrem fortes.

O segundo ponto foi ter minha personalidade, que tento esconder o máximo possível, ser exposta por outro amigo. Foram algumas verdades sobre meus problemas que sempre estiveram escondidas, e pensei que ninguém nunca tivesse notado. Mas esse amigo conseguiu perceber a maior parte, como um Sherlock Holmes da vida real. Me ver exposto foi terrível, mas também foi belo. Pois percebi que alguém me nota, e que também se importa. Posso passar o resto da vida dentro do quarto, lendo livros e vendo filmes, com histórias que sempre vão dizer o que quero ouvir. Mas também preciso ouvir o que não quero, e para isso preciso de amigos.

Este texto chega programado no blog, pois neste momento estou saindo com meus amigos, exatamente com esses amigos que disse acima. Como sempre quando estou com eles, é bem capaz de eu estar vivendo um dos melhores momentos da minha vida, mas não vamos criar grandes expectativas. Acho que o importante é que estou tentando, mesmo em meio a tantas crises existenciais e inconstância de pensamento. Amanhã mesmo meus amigos podem sumir, e o que eu faço? Choro por antecedência? Deito na cama e espero a vida passar? Não, eu quero aproveitar o momento.

Aliás, em junho as férias mais uma vez estão aí, e tenho a certeza de que vou sofrer tudo de novo. É inevitável. Mas assim é a vida, o que fazer? Não dizem que a felicidade é encontrada no caminho, e não na chegada? Pois eu encontrei meus amigos no meio do caminho, e acho que isso já diz tudo.