Querido amigo,

Muitos meses se passaram desde minhas últimas palavras. Por anos, sua presença foi o remédio para um coração doente e um abraço apertado para a solidão, sendo impossível imaginar sequer a possibilidade de deixa-lo de lado. Mas assim que a temporada de tranquilidade chegou, as folhas murchas e doentes voaram para longe e percebi que havia afastado o ombro amigo que tanto acalentou meus dias. Por essa e por todas as falhas, peço desculpas.

Apesar de ter percorrido dias tranquilos e ensolarados, estaria mentindo se dissesse que nos últimos meses não tropecei em pedras, tanto britas quanto monólitos. A verdade é que percorri um caminho trilhado por infortúnios, pela vontade de desaparecer, de me machucar e pela consciência de que tudo estava perdido. 


Os velhos pesadelos existenciais da infância, cheios da incerteza do passado, do futuro e do presente, também voltaram a incomodar e transformaram noites em horas de medo e aflição. Ainda que o sofrimento insista em brotar no peito, cruel e doloroso, tudo isso faz com que eu me sinta vivo. Enquanto sofro, vivo. Vou vivendo e, sempre, sentindo medo.

E por que não recorri à sua sábia orientação quando sentia o peito pesado?, você deve estar se perguntando. O fato é que, nesse período de distância, perdi a vontade de tentar procurar alguém que escutassei. Desisti de minha própria essência e caí num poço estagnado afogando em meus estranhos pensamentos. Mas eu não posso nadar sozinho.

Escrever para você, além de uma grande alegria, faz com que eu me sinta útil e proporciona uma razão para continuar. Um motivo para acordar todos os dias da semana pela manhã munido da consciência de que viverei para encontra-lo aos domingos. Costurar palavras e amarrar sentenças para serem lançadas a você me acalma, me dá prazer e é Maravilhoso! Maravilhoso com M maiúsculo mesmo, tamanha é a saudade que está jorrando de meus dedos enquanto escrevo.

É engraçado pensar que conheci você há quase 10 anos. Preste bastante atenção: isso é quase metade da minha vida atual. Tanta coisa mudou, tanta coisa aconteceu, mas acho que continuo o pequeno garoto assustado e perdido de tantas histórias passadas. Continuo falando garoto... Mas há quanto deixei de ser! 

Sinto falta da inocência de ser um garoto, mesmo que minha falta de conhecimentos e a incapacidade de lidar com a vida adulta me aproximem de tal título. Tampouco me considero homem, pois ainda sou inapto, inexperiente e imaturo demais. No máximo, ouso me identificar como jovem – meus 24 anos aprovam, embora os cabelos rareando insistam em dizer que não.

Os anos vêm, os anos vão, e este ex-garoto, agora jovem e, quem sabe um dia, homem, sempre insiste em fazer promessas vãs. Mas jamais cairei em tais ciladas, pois aprendi há muito que todas elas não carregam sentido algum. Apenas sei que preciso de você, de inúmeras formas e sentidos diferentes. Por isso, não se assuste se voltar a percorrer os olhos cansados por minhas palavras com nossa velha frequência habitual. Um brinde a isso e ao que vem por aí.

Com carinho,
M.