Entrevistas de emprego e dinâmicas em grupo são sinônimo de nervosismo e preocupação para a maior parte das pessoas. No entanto, existem métodos desconhecidos e até mesmo mais exigentes do que os habituais, que seriam motivo de preocupação ainda maior se fossem utilizados frequentemente. Um desses procedimentos é o método Grönholm.

O método consiste em um processo de seleção de candidatos, geralmente para cargos elevados, em que os participantes são submetidos a inúmeras provas e tarefas, marcadas pela intensidade em nível psicológico e emocional. Sozinhos em uma sala, os candidatos precisam interagir entre si e trocar experiências, assim como revelar habilidades e conhecimentos, enquanto são observados às escondidas pelos futuros empregadores. Além disso, os próprios candidatos são responsáveis por se eliminar, o que incentiva a competitividade e a agressividade. No fim do processo, resta apenas a pessoa mais qualifica para o trabalho, ou o candidato mais forte.

O método Grönholm é a base do filme "El Método", do diretor argentino Marcelo Piñeyro, que no Brasil ganhou o desnecessário título "O Que Você Faria?". Lançado em 2005, a obra é uma parceria entre Espanha, Argentina e Itália, e apresenta sete candidatos que vão para uma entrevista de emprego e se surpreendem com o método desconhecido. Em uma sala de reuniões, em um dos andares mais altos de um prédio em Madri, na Espanha, os candidatos se encontram sozinhos, esperando o contato de algum dos empregadores. O contato surge através de uma mensagem pelo computador, informando que há um infiltrado da empresa entre eles, e a primeira tarefa é descobrir quem é esse infiltrado.

A partir dessa proposta inicial, os personagens precisam executar uma série de outras provas, que faz com que eles sejam jogados constantemente uns contra os outros, em situações desafiadoras e conflitos hostis. Assim, após uma série de embates entre eles, a única possibilidade é que reste apenas uma pessoa, aquela que mostrará o equilíbrio necessário para trabalhar na empresa.

O filme possui uma série de particularidades que fazem com que a história seja interessante de assistir e prenda o espectador. O cenário quase imutável, a presença constante de diálogos ágeis e afiados e o bom desenvolvimento dos personagens criam uma dinâmica intrigante para o longa. Na verdade, "El Método" se sustenta especialmente pelos diálogos e embates desses personagens, marcados pela astúcia e por mensagens perspicazes, tanto intencionais quanto inconscientes. 

Filmes dirigidos dessa forma são sempre interessantes de se ver, como é o caso de "Deus da Carnifica" e "A Pele de Vênus", de Roman Polanski, e o francês "Qual é o Nome do Bebê?". "El Método" não chega à grandiosidade destes filmes, mas é bem construído do início ao fim, tendo sido consagrado em 2006 com dois prêmios Goya, o Oscar espanhol (Melhor Roteiro Adaptado e Melhor Ator Coadjuvante, para Carmelo Gómez), além de ter concorrido e vencido diversos outros prêmios. A história é baseada em uma peça de teatro do catalão Jordi Galceran, e foi encenada nos teatros do Brasil em 2007, com Lázaro Ramos e Taís Araújo.

Acredito que alguns pontos do filme foram abordados de forma um pouco superficial e nem mereciam ser tratados, como a cena de sexo no banheiro entre dois candidatos e a estereotipada secretária da empresa, provocante e dissimulada além do necessário. No entanto, na contrapartida desses aspectos banais, o feminismo é tratado de forma consiste, sendo discutido a disparidade entre o salário de homens e mulheres e o quanto o universo feminino é discriminado no mercado de trabalho. 

Em relação aos sete atores principais, todos eles interpretam bem seus papéis, enriquecendo os personagens de forma particular. Embora não desfrutem de fama internacional, os atores apresentam uma carreira de sucesso em seus países de origem, que se divide entre Espanha e Argentina. Além de Carmelo Gómez, que interpreta Julio, ter vencido o prêmio Goya por "El Método", todos os outros seis atores principais já concorreram ao prêmio por papéis em outros filmes, e Adriana Ozores (Ana) também levou o prêmio para casa por "La Hora de los Valientes".

Outro aspecto abordado no filme e que vai além da entrevista de emprego, desperta o interesse de quem assiste para uma temática diferente: a situação econômica na Espanha. Se hoje o país já não apresenta características muito otimistas, no ano que se passa o filme, 2005, ele apresentava uma situação ainda mais crítica. No momento em que os candidatos discutem e se confrontam no alto do prédio, eles olham pela janela do prédio e escutam os brados de manifestantes, que protestam na rua contra a economia preocupante do país e a globalização.

Ao final de "El Método", o cenário após o protesto é de destruição, com carros queimados, lixo espalhado pela rua, objetos quebrados e sujeira para onde quer que se olhe. O local está devastada, assim como estão os candidatos que participaram da seleção de emprego. Esta é uma crítica ferrenha ao capitalismo desenfreado, em que as pessoas estão dispostas a fazer de tudo e pagar qualquer preço para estar no topo. Uma entrevista de trabalho, mesmo com características extremamente agressivas, nada representam perto da brutalidade humana e o desejo de se sobrepor aos outros.